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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Diversidade


Todos os seres humanos, independentemente de sua idade, sexo, raça, etnia,
opção em relação à religião, ideologia, orientação sexual, ou qualquer
característica pessoal ou social, possuem direitos humanos. Qualquer tipo de
discriminação que mantenha ou promova desigualdades consiste em uma
violação de direitos humanos.

Direitos Humanos


São os direitos que o povo
Precisa então conhecer
Não digo nada de novo
Mas quero oferecer
Uma leitura singela
Que a moça da janela
Possa ler e entender
Trecho do cordel: “Direitos Humanos: isto é fundamental”, autoria
de Salete Maria da Silva

Consciência humanitária: pacifista sim, pacivo jamais!!!


"Primeiro vieram buscar os judeus e eu não me incomodei porque não era judeu.
Depois levaram os comunistas e eu também não me importei, pois não era
comunista. Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal. Em
seguida os católicos, mas eu era protestante. Quando me vieram buscar já não havia
ninguém para me defender...”.
Martin Niemöller (1892-1984), sobre sua vida na Alemanha Nazista.

Paz não se pede, paz se conquista!!!


“Assim como o broto é na brotação e a semente é na semeadura, a paz é na
sua efetuação como realidade de Justiça, democracia e direitos humanos”.
(Marcelo Rezende Guimarães, Paz: questão de ressignificação)

Violência não!!!


A violência não faz parte da natureza humana. A violência
surge de uma cultura violenta, que só sabe anular as outras
pessoas. Portanto, a violência não é condição de humanidade.

Cultura da Paz


“A violência não é uma fatalidade inexorável, mas colocada pelos humanos, [portanto]
pode ser retirada e trabalhada pelos mesmos humanos que a constituíram.”
(Se queres a paz, prepara-te para a paz, Marcelo Guimarães)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

56% das 369 vítimas de estupro em 2009 no DF tinham até 17 anos


Em muitos casos, o agressor é o pai, o padrasto ou alguém próximo da família

Adriana Bernardes

Mariana Laboissière

Publicação: 20/12/2010 08:00 Atualização: 20/12/2010 07:55

O número de vítimas de estupro no Distrito Federal cresceu 59,7% no ano passado em relação a 2008, de acordo com relatório da Polícia Civil. E, das 369 vítimas, 207 tinham até 17 anos, ou seja, 56% dos casos. O crime é hediondo e, em boa parte das vezes, o agressor é o próprio pai, o padrasto ou conhecidos da família.

Ameaçadas e humilhadas, as vítimas nem sempre conseguem denunciar a agressão por meio das palavras. Trancam-se em si mesmas numa tristeza sem fim ou explodem em atos de violência e rebeldia. Sinais difíceis de serem compreendidos pelos pais que, após a descoberta do crime, ainda se culpam por terem demorado tanto tempo para enxergar a verdade.

O abuso sexual contra crianças e adolescentes ocorre sem distinção de classe social, de escolaridade e de cor da pele. Quando é descoberto dentro do próprio lar, o choque parece ser ainda maior. “O chão sumiu dos meus pés e eu não conseguia pensar direito. As palavras da minha filha dizendo 'foi o papai que me machucou, mamãe' não saíam da minha cabeça. Ao mesmo tempo era difícil acreditar que o pai, que sempre foi tão presente e carinhoso com ela, seria capaz daquela monstruosidade”, relata Ludmila*, 31 anos, servidora pública e mãe de Iara*, de apenas 3 anos, abusada pelo próprio pai.

Desde a descoberta do crime, mãe e filha recebem acompanhamento psicológico. O pai da garota perdeu o direito de vê-la por ordem judicial e está sendo investigado pela polícia. “Me pergunto como pude ser tão cega. Ela mudou. Estava desobediente, birrenta, agressiva. Se ia brincar, tirava as roupinhas das bonecas. Surpreendi-a manipulando o órgão genital, mas achei que fosse parte do desenvolvimento dela”, relembra Ludmila, lutando para não se culpar pelo que ocorreu.

Apesar de tudo, Iara sente falta do pai e pede para vê-lo. “Eu não posso dizer para minha filha que o pai é um traste. Só espero que no futuro ela entenda que fiz tudo o que podia para protegê-la. Espero que ela sinta que, se estivesse no meu lugar, teria feito a mesma coisa”, diz, aos prantos, a servidora que se preocupa ainda sobre como será a fase da descoberta do amor, do sexo, qual será a visão da filha de homem, pai e marido. “Não dá para saber. Só o tempo dirá se ela conseguirá superar isso.”

O drama da servidora pública exemplifica bem o risco de se traçar um perfil do abusador. “Se a gente cria um perfil, cria também a falsa sensação de que é possível proteger as vítimas de determinado grupo e isso não é verdade. Pode ser qualquer tipo de pessoa, de todos os credos e cores, ricos e pobres”, explica o delegado Stenio Santos Sousa, do Grupo Especial de Combate aos Crimes de Ódio e à Pornografia Infantil na Internet (Gecop), da Divisão dos Direitos Humanos da Polícia Federal.

O abuso sexual é um crime que está intrinsecamente ligado ao segredo e ao silêncio. Não porque a vítima queira, mas porque é forçada a isso. De acordo com o psicólogo Reginaldo Torres Alves Júnior, supervisor substituto e analista judiciário da Área de Apoio Especializado de Psicologia da 1ª Vara da Infância e da Juventude (1ª VIJ), nem sempre a criança entende e rejeita o abuso. “Ele pode ser entendido como um carinho diferente, especial. Quando revelado, o adulto tem mais facilidade em desqualificar a criança, isto é, acredita ser mais provável que ela esteja mentindo”, diz.

De acordo com o delegado do cartório da Delegacia de Proteção à Criança e o Adolescente (DPCA), Alexander Traback, a instauração de inquérito pela entidade se dá quando há o mínimo de indícios de que uma criança foi abusada sexualmente. “Se a criança confirmou a violência, independentemente do laudo do IML (Instituto Médico Legal) dar resultado negativo, abrimos o procedimento”, esclarece.

O problema, segundo Traback, é que esses crimes, geralmente, são praticados sem testemunhas. “A dificuldade de incriminar o autor se dá porque, normalmente, são pessoas que não têm passagens pela polícia, têm bons antecedentes e emprego fixo. É a palavra de uma criança contra a palavra de um adulto.

Aqui, fazemos cursos de técnicas de entrevista, mas alguns juízes não têm essa expertise. Por esse motivo acredito que devam ser criadas varas especializadas no atendimento da vítima”, finaliza.


"O chão sumiu dos meus pés e eu não conseguia pensar direito. As palavras da minha filha dizendo ‘foi o papai que me machucou, mamãe' não saíam da minha cabeça. Ao mesmo tempo era difícil acreditar que o pai, que sempre foi tão presente e carinhoso com ela, seria capaz daquela monstruosidade”
Ludmila*, 31 anos, servidora pública e mãe de Iara, de apenas 3 anos, abusada pelo próprio pai

*Os nomes são fictícios para preservar as vítimas e em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente



Palavra de especialista
Conversar é fundamental
“O abuso sexual de crianças e adolescentes é um crime difícil de provar porque não há na Justiça, que eu saiba, um único abusador que tenha reconhecido que praticou o abuso. Ele acha que foi a vítima que seduziu ou alega embriaguez. Não assumem o fato porque isso desqualifica a imagem que têm de si mesmos. O abusador comete o abuso às escondidas, à noite ou quando a criança está sozinha. Ele se aproveita das circunstâncias e depois aparece como o cidadão acima de qualquer suspeita.

É preciso que os pais conversem com as crianças. É importante que, já no primeiro ato do abusador, a criança tenha a confiança em quem a proteja para relatar o ocorrido. As orientações podem começar aos 3 anos de idade. Isso também implica em um pacto dentro de casa entre o casal. É preciso que o assunto faça parte das conversas de namorados, noivos e casados. A escola não é o único capital que um pai dá ao filho. A informação, a garantia da integridade física e a capacidade de diálogo são fundamentais entre casais hetero ou homossexuais. A sexualidade não pode ser um assunto que fique debaixo do tapete.

Não há que se responsabilizar a criança pela denúncia. O responsável por educar é o adulto. O que a gente indica é diálogo entre o casal. Porque o adulto tem desejo. Não é a questão de negar o desejo, mas se ele surgir, sublimar e respeitar a criança na sua beleza e no seu desenvolvimento. Não se pode colocar essa como uma relação anjo com anjo. É uma relação de gente.


"Vivemos um momento de individualização da sexualidade, ou seja, a pessoa busca o seu prazer individual desconsiderando a pessoa do outro. Nós temos que educar a sociedade para o respeito ao corpo, à sexualidade da mulher e da criança para que ela seja exercida de acordo com o desenvolvimento da própria pessoa. O adulto tem que exercer a sua sexualidade com o adulto. Ele pode decidir pela aceitação ou rejeição do desejo por crianças. Mas se tem essa preferência, precisa fazer tratamento.”
Vicente Faleiros é assistente social e professor da Universidade de Brasília e da Católica.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A cor da ciência



A pobreza, a ausência de políticas públicas e o racismo impedem o acesso dos negros a cursos de maior prestígio, à pós-graduação e à carreira científica

Por: Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual

Publicado em 12/11/2010


(Foto: Andrea Rego Barros)
Telefone celular, ar-condicionado, elevador, geladeira. Indispensáveis, esses itens são parte de uma extensa lista de invenções e descobertas de cientistas negros. São tantas que a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada à Presidência, resolveu promover algumas delas no estande montado na Esplanada dos Ministérios, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em outubro.

De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, nos últimos dez anos a produção científica nacional cresceu 200%, passando de 10 mil para mais de 30 mil estudos publicados em revistas especializadas internacionais. Mas a população afrodescendente não é contemplada por esse salto.

Pesquisa da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros detectou, entre 705 entrevistados, que 82% têm formação em ciências humanas, como Educação, Sociologia, História, Letras, Geografia. Racismo, ausência de políticas públicas, dificuldade de acesso à educação pública de melhor qualidade e baixa autoestima estão entre os fatores que inibem a presença do negro em cursos que abrem as portas para a carreira científica.

O físico Ernane José Xavier Costa, pesquisador do Departamento de Ciências Básicas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga (SP), é direto: “É preciso que as instituições admitam que a ciência e a tecnologia no Brasil têm cor. E é branca, feita por brancos e para brancos”. Ele coordenou o primeiro simpósio no país sobre a população negra na ciência e na tecnologia. A ideia surgiu em uma das viagens a Angola, onde participa de um projeto em parceria com uma universidade. “Embora o Brasil tenha inúmeros projetos na África, ouvi de um africano que eu sou o primeiro cientista brasileiro negro visto por lá.”

Ernane lembra que foi preciso bater em muitas portas até conseguir apoio para o evento. E, se não fossem relações pessoais, não teria conseguido sequer espaço para divulgação na agência de notícias da universidade em que trabalha. O resultado foi muito bom, apesar de nenhum dos pró-reitores da maior universidade pública brasileira ter comparecido.

Graduado em Administração Pública pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Ciência Política pela Federal de Pernambuco, Carlos Augusto Sant’Anna Guimarães é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. Para ele, o racismo é o principal entrave à entrada de pretos e pardos em cursos como Medicina, Ciências Biológicas e Engenharia, portas para a nata da pesquisa, como aquelas feitas em biotecnologia, células-tronco, nanotecnologia. “O racismo é estruturante da sociedade brasileira e o fator econômico é um fenômeno que se junta a outros”, afirma. “Os negros são pobres porque são discriminados, e não discriminados porque são pobres.”

Para ele, acentua as desigualdades o fato de a ciência ser considerada senhora da verdade e da razão, um bem social de grande valor. E, nessa perspectiva, o cientista estaria acima do bem e do mal, porque busca a verdade e trabalha com fatos. “Em última instância, é chamado para dar a palavra final, ocupando assim posição de destaque, prestígio e poder.”

O pesquisador, que não encontrou 20% de pretos e pardos durante toda a sua vida acadêmica e não lembra de ter tido professores desse grupo, conta que há apenas três pesquisadores de pele negra entre os mais de 100 que atuam na fundação em que trabalha. Como diz, a questão racial está enraizada no Brasil, em todos os espaços, trazendo implicações sociais, econômicas e psíquicas que geram um grupo de indivíduos que se sente superior a todos e outro que se sente inferior.

“É preciso romper com essa ideologia racista na qual nem mesmo o negro militante percebe que está sendo alvo. E o pior é a naturalidade dos que a praticam. Ao cruzar com um negro, a pessoa logo pensa se tratar de um bandido. E ainda acha que isso não é racismo”, dispara. “Até que se prove o contrário, o branco é bom e o negro é mau, fracassado, sem cultura, sem educação, que não pode estar em determinados espaços, como a iniciação científica e a seleção para mestrado e doutorado.”

A química Denise Alves Fungaro, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, tem dados que quantificam a afirmação de Guimarães. Com base num levantamento que fez para uma reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ela diz que, dos 6 mil doutores titulados a cada ano no Brasil, somente 1% é negro e menos de 1% das pesquisas focalizam assuntos de interesse dessa população. Em 2001, quando a USP realizou um censo, apenas 9,64% dos seus alunos eram negros, enquanto essa população no estado de São Paulo correspondia a 34,3%. “Estudos sobre inserção desse grupo no ensino público superior brasileiro constataram que 0,4% dos docentes em universidades públicas são pretos e pardos. Se nada for feito, a projeção para os próximos 170 anos é que esse percentual atinja, no máximo, 1%”, adverte.



Questão de oportunidade
Com pós-doutorado pela Universidade de Coimbra, Portugal, e sete prêmios pela pesquisa sobre tratamento de água poluída, Denise atribui seu ingresso na carreira científica à educação pública de qualidade, à renda familiar adequada e à oferta de bolsa de pós-graduação. “Desde pequena quis ser cientista. Minha sorte é sempre ter gostado de estudar.” Filha de zelador, não desprezou o privilégio de morar na região central da cidade e poder frequentar um colégio público de referência, o Caetano de Campos. Chegou ao ensino médio quando a educação gratuita entrava em crise. Com a ajuda dos pais, fez cursinho pré-vestibular durante o último ano e ingressou no Instituto de Química da USP. Se praticamente não havia negros nas fases anteriores, na faculdade menos ainda. “Ter me destacado nos estudos, sempre, me nivelou aos demais colegas. Acho que por isso nunca me senti discriminada.”

A dedicação aos estudos, aliás, é a maneira encontrada para furar o cerco. O físico Cláudio Elias da Silva, professor do Instituto de Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é filho de pai feirante e mãe artesã. Criado na Baixada Fluminense, seu currículo inclui cursos na Europa e mais de um ano e meio como pesquisador na Agência Espacial Americana, a Nasa. “Ainda criança, percebi que não me encaixava no padrão dos meninos preferidos pelas meninas. Descobri o estudo como aliado para superar essa desvantagem quando passei a dar aulas de reforço para uma menina, bonita, que só passou a olhar para mim depois que soube que eu era bom em matemática”, lembra Cláudio.

Reconhecido e admirado, ele passou a estudar mais e mais. Fez colégio técnico e, durante o estágio numa empresa de telefonia, percebeu que os técnicos faziam faculdade à noite e não eram promovidos quando se formavam. Com o fim do estágio, investiu o tempo nos estudos e em aulas que dava num cursinho. Passou no vestibular da universidade onde hoje leciona e, depois de graduado­, deu aulas numa particular.

Fez mestrado, doutorado, estudou na Itália. Racismo, mesmo, só sentiu nos Estados Unidos. “Notei que um engenheiro que trabalhava na mesma sala não respondia a minhas perguntas quando estávamos a sós, apenas em reuniões. Além de negro, eu era o latino-americano que ameaçava seu emprego. Na Itália, talvez por causa do meu preparo acadêmico, nunca me senti discriminado e fiz muitas amizades. Quando adolescente, na Baixada, eu só via racismo quando o menino negro queria namorar a menina branca”, conta.
Estudar com afinco marcou a trajetória de Sonia Guimarães, de São José dos Campos (SP). Filha de tapeceiro, ela foi a primeira mulher a lecionar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), onde chegou em 1993.

Hoje, Sonia divide seu tempo entre os laboratórios e a gerência de um projeto de um dispositivo estratégico para a defesa das fronteiras no Instituto de Aeronáutica e Espaço. Com graduação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestrado na USP e doutorado em Bolonha, na Itália, a pesquisadora foi recebida com desconfiança por parte de muitos colegas, principalmente de alta patente militar. “Meu currículo e a fluência em duas línguas estrangeiras pareciam não significar nada”, afirma. Para ela, faltam incentivos e facilidade de acesso para a carreira científica. E isso vale também para o branco.

Na infância, a criança é desestimulada a estudar Física, por exemplo, porque não terá onde trabalhar. “O sonho já é morto logo que nasce”, diz Sonia. E depois, já na adolescência, falta apoio para o ritmo intenso de estudos e o tempo passa a ser dividido, em muitos casos, entre festas, passeios e diversão. “O estudo deixa de ser a meta principal. Como vamos conseguir ir bem no curso e obter os melhores empregos?”, questiona. “Como fazer isso indo a festas em plena segunda-feira à noite?” Para piorar, segundo ela, o Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em julho passado pelo presidente Lula, não prevê cotas para negros em universidades, empresas e candidaturas políticas.

A falta de educação pública de qualidade, bem como de expectativa de ingresso na universidade e na pós-graduação, são outros obstáculos, na opinião de Paulino de Jesus Francisco Cardoso. Vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e pró-reitor de Extensão, Cultura e Comunidade da Universidade Estadual de Santa Catarina, ele diz que, além dos problemas estruturais, a escola pública brasileira, sem condições para lidar com as diferenças, é mais excludente para o negro. “A cultura disseminada em festas não contempla os costumes e religiões, por exemplo. E, quando isso acontece, é de maneira equivocada e preconceituosa”, afirma. “Com poucas condições de permanecer no ensino fundamental e médio, como vão pensar em universidade?”.

Ele diz que o sistema de cotas é positivo mas insuficiente, uma vez que a adesão ao sistema é questão de orientação de governo e das universidades, e não política de Estado. “Devem ter entrado este ano entre 150 e 200 alunos pelas cotas na Universidade Estadual­ de Santa Catarina, o que é muito pouco”, argumenta. Graduado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com mestrado e doutorado pela PUC de São Paulo, Paulino conta que os únicos negros que vê na faculdade são africanos.

O neurocientista paulistano Miguel Nicolelis é hoje um dos cientistas de maior destaque em todo o mundo. Só neste ano ganhou dois dos mais importantes prêmios concedidos pelo governo americano. Para ele, que dirige também um centro de neurociências em Natal, a séria questão racial no âmbito científico reflete principalmente a baixa qualidade do ensino público, no qual estão os negros, e é agravada pela falta de capilaridade da produção científica brasileira. “A produção está concentrada em São Paulo e não é compartilhada como deveria, indo ao interior do Piauí, por exemplo, para que a criança a conheça e se interesse”, afirma. Para Nicolelis, a ciência tem de sair do pedestal e deixar de lado o ranço aristocrático. “Pouco adianta aumentar investimentos, chegando aos 4% do PIB que queremos, se o conhecimento científico e tecnológico não for compartilhado igualmente por todos os brasileiros.”

FONTE: Revista do Brasil

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“Não sou Brasil”


Por Cristovam Buarque:

Nos últimos meses, tenho aproveitado meu tempo livre para andar pelo País, levando uma campanha chamada Educação Já. Como no tempo das Diretas Já, que mobilizaram o Brasil pelo fim do regime militar, defendo que é hora de despertar o povo para a necessidade de uma revolução no País, por meio da educação. Fazer com que cada criança tenha a mesma chance na vida, com garantia de escola com a mesma qualidade, não importa a renda da sua família ou o tamanho da cidade onde more.
Na última semana, visitei a Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, fundada e dirigida pelo Reitor José Vicente. Essa universidade tem a maioria dos alunos negros, como se houvesse uma cota para brancos. Tem boas instalações, oferece cursos de qualidade. A primeira impressão quando entramos, e vemos dezenas de jovens negros, é de que não estamos no Brasil, mas sim na África. No entanto, aquela é a cara do Brasil. Deveríamos estranhar encontrar o contrário - apenas brancos nos bancos universitários.
Esse estranho estranhamento explica por que um estudante jovem, ao final da palestra, pediu a palavra e desabafou: “Eu não sou Brasil”, declarou. “Vocês são um Brasil, eu sou outro. Não sou o Brasil dos ricos, dos brancos, do Senado, da Câmara, do Governo, da Justiça. Não sou esse Brasil que me ignora. Fiz muito esforço para chegar à universidade. Vou conseguir um diploma, mas de que ele vai adiantar, se eu não tiver emprego? E eu não terei um. Porque eu não sou Brasil.”
Quando um jovem afirma que não é Brasil, está fazendo uma declaração muito grave. O que ele quer dizer é: “vocês são Brasil; eu não. Não sou esse Brasil que está nos jornais; nas TVs oficiais, nas campanhas publicitárias do Poder Executivo ou na impunidade alimentada pela Justiça.”
Mas se ele não assumir sua nacionalidade, não terá futuro. Mesmo que fique rico e tranqüilo, será ameaçado, assaltado, seqüestrado. Mesmo que consiga seu diploma, o Brasil não será seu, se ele viver cercado de analfabetos, miseráveis, excluídos. Ou o Brasil é bom para todos, ou não será bom para ninguém.
Aquele jovem precisa entender que é Brasil, mesmo que não queira. Ainda que decida partir, emigrar, aonde for, será Brasil. Por isso, pedi-lhe que não desistisse da luta, que ajudasse a mudar o Brasil. Porque se ele não o fizer, não terá futuro sozinho.
Mas seu desabafo deve servir de alerta para todos nós, governantes. Aquele jovem pode não retratar o País em sua totalidade, mas representa uma parcela significativa da população, que não se sente parte do Brasil oficial - o país do Governo, do Congresso, do Judiciário. Que não vê relação entre o que se diz e se faz no Brasil oficial e no Brasil de cada um, nem vê em nós a solução para seus problemas. Como se, dividido pelo individualismo, corporativismo, oficialismo, povo e Estado, o Brasil transmitisse aos jovens a idéia de que eles não são brasileiros. E essa divisão nos destruirá.
Espero que o grito daquele jovem nos desperte para a necessidade de mudar a maneira como nós, governantes, pensamos, falamos, agimos. Ou despertamos, ou não haverá futuro. Precisamos ouvir as pessoas que estão lá fora. Indignadas, descontentes, frustradas e, acima de tudo, perdidas. Não confiam no País, não conhecem seus líderes, ou pior, não têm líderes.
O Brasil está empacado. Pode crescer na economia, no número de universitários, mas não será uma nação civilizada, se não acabarmos com o fosso que nos separa. Aquele jovem não estaria na universidade se não fosse a evolução por que passou o Brasil nos últimos anos. Mas estar na universidade não basta, porque o que ele aprende ali não lhe dará o emprego que ele gostaria de ter; e se der, não dará a outros. E mesmo que dê emprego a todos os universitários, não resolverá os problemas fundamentais da sociedade brasileira. Não bastará para construir nosso futuro.
Não haverá futuro para nenhum de nós, enquanto um jovem nos olhar nos olhos e nos disser que ele não é Brasil.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os Miseráveis




Vítor nasceu

No Jardim das Margaridas.

Erva daninha

Nunca teve primavera.

Cresceu sem pai

Sem mãe

Sem norte

Sem seta.

Pés no chão

Nunca teve bicicleta.

Hugo não nasceu, estreou

Pele branquinha

Nunca teve inverno.

Tinha pai

Tinha mãe

Caderno

E fada madrinha.

Vítor virou ladrão

Hugo salafrário

Um roubava pro pão

O outro pra reforçar o salário.

Um usava capuz

O outro, gravata.

Um roubava na luz

O outro, em noite de serenata.

Um vivia de cativeiro

O outro, de negócio

Um não tinha amigo, parceiro

O outro, tinha sócio.

Retrato falado

Vítor tinha a cara na notícia,

Enquanto Hugo

Fazia pose pra revista.

O da pólvora

Apodrece penitente.

O da caneta

Enriquece impunemente.

A um só resta virar crente

O outro, é candidato a presidente.



Sérgio Vaz

SOMOS A ÁFRICA


Por Alessandro Oliveira

O racismo não é concebido no momento em que nascemos. Ele é produto de um tecido ideológico forjado a partir de uma infinidade de interesses políticos, econômicos, sociais e culturais. A escravidão moderna impeliu ao negro a classificação de “escravo por excelência”. Tal brutalidade histórica foi forjada sob a égide de uma ideologia que buscava mão de obra abundante para a expansão européia no “novo mundo”.

Desumanizar os povos africanos trazidos para as terras do além-mar serviu para que a barbárie praticada contra eles tomasse o aspecto de uma atividade moralmente justificada perante a sociedade. Açoites, estupros e privações, se acometidos contra os escravos, faziam parte de uma desafinada sinfonia do terror, que era apreciada por um mundo que não enxergava o negro como ser humano.

Infelizmente esta sinfonia do terror ainda ecoa no presente por vozes que difundem que o fenótipo negro é feio; que defendem superioridade rácica; que ensinam que as crenças religiosas africanas são maléficas; vozes que excluem. Mas, não são apenas as vozes que gritam a exclusão e o preconceito que ensurdecem os ouvidos da Humanidade. As vozes que se calam diante da barbárie são tão cruéis quanto às vozes dos que falam.

Há um pedido de Bertold Brecht que se faz necessário citar: “Desconfiemos, desconfiemos sempre do que aparenta singelo e habitual. Não aceitemos o que é de hábito como coisa natural; e, principalmente, carreguemos a certeza de que nada é natural, nada é impossível de mudar.”

Clama-se! Levantemos vozes para calar a exclusão. Exercitemos a audição para ouvir o grito dos excluídos. Mantenhamos os olhos abertos para reconhecer injustiças. Usemos nossas mãos para ajudar o próximo.

Que o ritmo dos tambores africanos inspire os homens do mundo inteiro a compor uma harmonia consonante com a justiça social.

A natureza é multicolorida, a "alma" não tem cor. Só existe a raça humana. Neste 20 de Novembro, lembremos que somos o mundo, somos a África.

domingo, 28 de novembro de 2010

GOG é entrevistado pelo projeto Produção Cultural no Brasil

“O músico independente tem de trilhar vários caminhos. Eu tenho várias ações dentro do meu trabalho, eu sou responsável por grande parte da produção, eu gerencio várias coisas dentro da minha carreira.”
GOG, Genival Oliveira Gonçalves, é rapper. Nasceu na cidade satélite de Sobradinho, no Distrito Federal, em 1965. Em 1973 mudou-se para Guará II, cidade que foi o cenário de suas primeiras influências: o convívio com os primos amantes da black music, os vinis, a formação do grupo de dança “Magrello’s Pop Funk”, que daria origem ao grupo de Rap “Os Magrello’s”, a iniciação no break, a chegada ao rap. Em 1990, recebeu o convite do DJ Leandronik para participar da coletânea “Rap Ataca”, do selo Kaskata’s, e gravou música “A Vida”, sua primeira gravação oficial. Em 1992, em parceria com o selo de rap Discovery, lança o compilado “Peso Pesado” e seu nome passa a ser mais conhecido no país. De 1994 a 2000 lançou mais quatro discos: “Dia a Dia da Periferia”, “Prepare-se!”, ”Das Trevas à Luz”, ”CPI da Favela” e várias músicas desses trabalhos tornaram-se sucesso. Em 2004, “Tarja Preta” recebeu o Prêmio Hutúz de melhor disco do ano.

Trechos da entrevista

“Era impossível para um jovem de periferia, adolescente de periferia, ter uma banda com baixo, bateria, guitarra, teclado – muito caro! E, a partir do momento que você pode, chega uma oportunidade de você cantar em cima de um instrumental, de um disco – vinil eu tinha em casa de montes.”

“A grande locomotiva do hip hop é o DJ. O DJ é quem dá o tom da caminhada – e o DJ essencialmente é criativo, ele procura formatos, novas caminhadas… Então os grooves, ou seja, as batidas, o bumbo, a caixa, o chimbau, ele vem evoluindo, ninguém quer ter o som do verão passado. Então o DJ quer trabalhar, ele quer colocar algo de novo, e isso faz com que nós, rappers, também caminhemos lado a lado: tua levada tem que melhorar, a letra tem que evoluir, temos que continuar dentro da nossa criatividade”

Veja a entrevista na íntegra: http://www.youtube.com/watch?v=avriFO6kf2E&feature=player_embedded

Prêmio Hip Hop Zumbi


Sujestões de voto para o Prêmio Hip Hop Zumbi:

01: Melhor Demo/Single
GOG – Brasília Outros 50
02: Melhor Álbum
Diga How – Homônimo
03: Melhor Clipe
Radicalibres – Observado Observando
04: Multiplicação da Revolução (Ativismo no Hip Hop)
Aspcel
05: Premio Mídia e Comunicação (Zine, Blog, Site, Etc.)
Revista D'Role
06: Melhor Artista ou Crew de Breaking
BSBgirls
07: Melhor Artista ou Crew de Grafite
Vomito Terror
08: Prêmio Raiz e Essência
Vera Veronika
09: Prêmio "100 Pre-conceito" (Reconhecer iniciativas de promoção da equidade racial)
Prof. Glória: Semana da consciência negra CEF 412 Samambaia
10: Melhor DJ
DJ Chocolaty
11: Prêmio Reconhecimento
Satão DF Zulu
12: Melhor Produtor/Produtora musical
Higo Melo
13: Prêmio Hip Hop Mulher
Vera Verônika

link: http://www.premiohiphopzumbi.blogspot.com/

sábado, 20 de novembro de 2010

Viva ao 20 de novembro!!! Zumbi vive!!!


Zumbi, herói de Palmares, herói negro brasileiro


Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver.

Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.

No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.

Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu "governo" a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.

O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695.

Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

domingo, 14 de novembro de 2010

Manifesto dos Brancos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Este texto é um manifesto escrito e subscrito por brancos que compõem a comunidade escolar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele é uma retumbante admissão pública, por nossa parte, de que vivemos em um contexto de exclusão estrutural de negros e indígenas dos benefícios e espaços de cidadania produzidos por nossa sociedade e onde, ao mesmo tempo, é produzida uma teia de privilégios a nós brancos, que torna completamente desigual e desumana nossa convivência. Somos opressores, exploradores e privilegiados mesmo quando não queremos ser. O racismo não é um “problema dos negros”, mas também dos brancos. É pelo reconhecimento destes privilégios que marcam toda nossa existência, mesmo que nós brancos não os enxerguemos cotidianamente, que exigimos a imediata aprovação de Ações afirmativas de Reparação às populações negras e indígenas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

No Brasil vivemos em um estado de racismo estrutural. Já é comprovado que raça é um conceito biologicamente inadmissível, só existe raça humana e pronto. Mas socialmente, nos vemos e construímos nossa realidade diária em cima de concepções raciais. Portanto, raça é uma realidade sociológica. Não é uma questão de que eu ou você sejamos pessoalmente preconceituosos. Mas é só olhar para qualquer pesquisa que veremos como existe um processo de atração e exclusão de pessoas para estes ou aqueles espaços sociais, dependendo de sua cor. Não é à toa que não temos quase médicos negros, embora eles sejam a maioria nas filas dos postos de saúde; que quase não vemos jornalistas negros, mas estes são expostos diariamente em páginas policiais; que não temos quase professores negros, especialmente em posições com melhores salários, e vemos alunos negros apenas em escolas públicas enquanto, na universidade pública quase só encontramos brancos.

A situação dos indígenas não é diferente, quando eles ainda sofrem lutando pelo direito mínimo de ter suas terras e aldeias, mesmo isso lhes é surrupiado pelos brancos. Vamos parar com esta falácia de dizer que não aceitamos cotas raciais na universidade, porque não queremos ser racistas: se vivemos no Brasil, se fomos criados nesta cultura, se construímos nossas vidas dentro deste conjunto de relações onde a raça é um elemento determinante, somos todos racistas! Não fujamos da realidade. Não usemos a falsa desculpa de que não queremos criar divisões entre raças no Brasil. Nossa sociedade poderia ser mais dividida racialmente do que já é hoje?

O estudo de Marcelo Paixão intitulado “Racismo, pobreza e violência”, compara o IDH dos brancos e dos negros dentro do Brasil. O IDH tenta medir a qualidade de vida das populações, combinando os três fatores que, por abranger, cada qual, uma imensa variedade de outros, seriam os essenciais para a medição: renda por habitante, escolaridade e expectativa de vida. Na última versão do IDH, de 2002, o Brasil ocupa o 73º lugar entre 173 países avaliados, mesmo possuindo todas as riquezas nacionais e sendo o 11º país mais desenvolvido economicamente no mundo. Porém, entre 1992 e 2001, enquanto em geral o número de pobres ficou 5 milhões menor, o dos pretos e pardos ficou 500 mil maior. [Consideram-se brancos 53,7% dos brasileiros; pretos ou pardos, 44,7%, que chamaremos, hora em diante de negros]. O estudo mostra que Brasil dos brancos seria, na média o 44º do mundo em matéria de desenvolvimento humano, ao passo que o Brasil dos negros estaria no 104º lugar!!!

Nada disso é novidade, porém, para quem aceita viver com os olhos minimamente abertos. Temos que reconhecer que vivemos num sistema estruturalmente racista, que se reproduz em cima de mecanismos constantes de exclusão e exploração dos negros e de privilégios naturalizados aos brancos. Em um sistema racista, pessoas brancas se beneficiam do racismo, mesmo que não tenham intenções de serem racistas. Nós brancos não precisamos enxergar o racismo estrutural porque não sofremos diariamente diversos processos de exclusão e tratamento negativamente diferencial por causa de nossa raça. Nossa raça (e seus privilégios) são tornados invisíveis dia-a-dia. Este sistema de privilégios invisíveis a nós brancos é que nos põe em vantagens a todo instante, por toda nossa vida, em todas as situações, e que destroça qualquer tentativa de pensarmos que estamos onde estamos apenas por méritos pessoais. Que mérito puro pode ter qualquer branco de estar no lugar confortável em que se encontra hoje, mesmo que tenha saído da pobreza, dentro de um sistema que lhe privilegiou apenas por ser branco, ao mesmo tempo em que prejudicou outros tantos apenas por serem negros?

Vamos apresentar uma breve listinha de circunstâncias em nossas vidas que expõem nossos privilégios de brancos e que, embora não percebêssemos, embora os víssemos apenas como relações naturais para nós, por sermos pessoas normais e “de bem”, foram decisivas para nos trazer onde estamos (e por não serem vivenciados também por negros e indígenas, seu resultado é fazer com que seja tão desproporcional o número destas populações dentro da UFRGS, por exemplo):
1) Sempre pude estar seguro de que a cor da minha pele não faria as pessoas me tratarem diferentemente na escola, no ônibus, nas lojas, etc;
2) Estou seguro de que a cor da pele dos meus pais nunca os prejudicou em termos das busca ou da manutenção de um emprego;
3) Estou seguro de que a cor da pele dos meus pais nunca fez com que seu salário fosse mais baixo que o de outra pessoa cumprindo sua mesma função;
4) Posso ligar a televisão e ver pessoas de minha raça em grande número e muitas em posições sociais confortáveis e que me dão perspectivas para o futuro;
5) Na escola, aprendi diversas coisas inventadas, descobertas, grandes heróis e grandes obras feitas por pessoas da minha raça;
6) A maior parte do tempo, na escola, estudei sobre a história dos meus antepassados e, por saber de onde eu vim, tenho mais segurança de quem sou e pra onde posso ir;
7) Nunca precisei ouvir que no meu estado não existiam pessoas da minha raça; Nunca tive medo de ser abordado por um policial motivado especialmente pela cor da minha pele;
9) Já fiz coisas erradas e mesmo ilegais por necessidade, e nunca tive medo que minha raça fosse um elemento que reforçasse minha possível condenação;
10) Posso ir numa livraria e perder a conta de quantos escritores de minha raça posso encontrar, retratando minha realidade, assim como em qualquer loja e encontrar diversos produtos que respeitam minha cultura;
11) Nunca sofri com brincadeiras ofensivas por causa de minha raça;
12) Meus pais nunca precisaram me atender para aliviar meu sofrimento por este tipo de “brincadeira”;
13) Sempre tive professores da minha raça;
14) Nunca me senti minoria em termos da minha raça, em nenhuma situação;
15) Todas as pessoas bem sucedidas que eu conheci até hoje eram da mesma raça que eu;
16) Posso falar com a boca cheia e ficar tranqüilo de que ninguém relacionará isso com minha raça;
17) Posso fazer o que eu quiser, errar o quanto quiser, falar o que eu quiser, sem que ninguém ligue isso a minha raça;
18) Nunca, em alguma conversa em grupo, fui forçado a falar em nome de minha raça, carregando nas costas o peso de representar 45% da população brasileira; 19) Sempre pude abrir revistas e jornais, desde minha infância, e estar seguro de ver muitas pessoas parecidas comigo;
20) Sempre estive seguro de que a cor da minha pele não seria um elemento prejudicial a mim em nenhuma entrevista para emprego ou estágio;
21) Se eu declarar que “o que está em jogo é uma questão racial” não serei acusado de estar tentando defender meu interesse pessoal;
22) Se eu precisar de algum tratamento medico tenho convicção de que a cor da minha pele não fará com que meu tratamento sofra dificuldades;
23) Posso fazer minhas atividades seguro de que não experienciarei sentimentos de rejeição a minha raça.

Esta realidade destroça meu mito pessoal de meritocracia. Minha vida não foi o que eu sozinho fiz dela. Muitas portas me foram abertas baseadas na minha raça, assim como fechadas a outras pessoas. A opção de falar ou não em privilégios dos brancos já é um privilegio de brancos. Se o racismo, e os privilégios dos brancos são estruturais, as ações contra o racismo devem ser também estruturais. Racismo não é preconceito: racismo é preconceito mais poder. Se não forçarmos mudanças nas relações e posições de poder em nossa sociedade, estaremos reproduzindo o racismo que recebemos. E agora chegou a hora de a universidade dizer publicamente: vai ou não vai “cortar na própria pele” o racismo que até hoje ajudou a reproduzir, estabelecendo imediatamente Cotas no seu próximo vestibular? Se mantivermos o vestibular “cego às desigualdades raciais” estaremos, na verdade, mantendo nossos olhos fechados para as desigualdades raciais que nós mesmos ajudamos a reproduzir sociedade afora.

Nós, brancos da universidade que assinamos esta carta já nos posicionamos: exigimos cortar em nossa própria pele os privilégios que até hoje nos sustentaram. Cotas na UFRGS já!

Fonte: Sociologia

Dia nacional da Consciência Negra


O dia 20 de novembro se aproxima, portanto, meus próximos posts serão dedicados ao Dia Nacional da Consciência Negra!!!

domingo, 12 de setembro de 2010

Capoeira (Patrimônio Cultural do Brasil)



O Brasil a partir do século XVI foi palco de uma das maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de negros foram trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se tornarem escravos nas lavouras da cana-de-açúcar. Tribos inteiras foram subjugadas e obrigadas a cruzar o oceano como animais em grandes galeotas chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os portos finais da maior parte desse tráfico.
Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitaram pacificamente o cativeiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se rebelaram contra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi o quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso. Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se em Pernambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espécie de Estado africano foi formado. Distribuído em pequenas povoações chamadas mocambos e com uma hierarquia onde no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi, Palmares pode ter sido o berço das primeiras manifestações da Capoeira.
Desenvolvida para ser uma defesa, a Capoeira foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram capturados e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeitas, os movimentos da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que parecessem uma dança. Assim, como no Candomblé, cercada de segredos, a Capoeira pode se desenvolver como forma de resistência.
Do campo para a cidade a Capoeira ganhou a malícia dos escravos de 'ganho' e dos frequentadores da zona portuária. Na cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam arruaças nas festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante décadas a Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se apenas na década de 30, quando uma variação da Capoeira (mais para o esporte do que manifestação cultural) foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas. De lá para cá a Capoeira Angola aperfeiçoou-se na Bahia mantendo fidelidade às tradições, graças principalmente ao seu grande guru, Mestre Pastinha , que jogou Capoeira até os 79 anos, formando gerações de angoleiros .

sábado, 21 de agosto de 2010


As guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ministro da Igualdade Racial cita o Vasco como exemplo de inclusão





Desde a Constituição do Império de 1824, temos a previsão da igualdade formal em nosso país. É inegável o desejo nacional de construção da igualdade de oportunidades e direitos entre os cidadãos brasileiros. Quando a Lei Áurea foi promulgada em 13 de maio de 1888, o fato teve grande importância, pois tornou livres cerca de um milhão de escravos. Contudo, o 14 de maio de 1888 foi o dia em que se instituiu um modelo de vida cruel para os ex-cativos e os descendentes de africanos alforriados. Traduzido no dizer dos poetas da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, os negros, desde então, ficaram "livres do açoite da senzala, mas presos na miséria da favela".

As desigualdades raciais existentes em nosso país são apontadas exaustivamente pelos mais importantes institutos de pesquisa. O quadro se justifica historicamente. No pós-abolição, os ex-cativos não contaram com políticas de crédito, de financiamento, sequer com uma política fundiária que viabilizasse a concessão ou a destinação de terras para a produção e a moradia. Ocorrendo-lhes justamente o oposto do que aconteceu com os imigrantes europeus, que tiveram tais direitos.

Passados os anos, o cenário internacional de combate ao racismo e o movimento negro brasileiro asseguraram na Constituição cidadã de 1988 o racismo como crime inafiançável e imprescritível. O Congresso aprovou, após dez anos de tramitação, o projeto de lei do Estatuto da Igualdade Racial, que foi sancionado pelo presidente Lula, e transformou-se na lei de número 12.288, de 20 de julho de 2010.

O Estatuto é uma lei moderna que dispõe sobre as possibilidades para inclusão da população negra, através das ações afirmativas. Assegura, ainda, direitos às comunidades de remanescentes de quilombos e a liberdade de consciência e crença às religiões de matriz africana, entre outras garantias. As ações afirmativas, que são a essência do Estatuto, são políticas que devem durar o tempo suficiente para superar as desigualdades existentes na área de sua ação. As cotas raciais no ensino superior, que vêm sendo aplicadas há sete anos, são a forma mais visível das ações afirmativas. Neste período o desempenho dos alunos cotistas tem sido tão bom ou superior ao dos estudantes não cotistas. A convivência no ambiente universitário é excelente.

Outro exemplo exitoso de processos de inclusão ocorreu no início do século passado, quando o Vasco da Gama foi expulso da Liga de Futebol, porque havia incluído no seu quadro social e desportivo os negros. Hoje, todos os clubes têm negros. O Vasco estava certo. O ingresso de estudantes negros e negras no ensino público superior e a inclusão da população negra na fruição dos bens não pode ser uma exceção. Precisa ser algo de fato integrador.

ELOI FERREIRA DE ARAUJO é ministro-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Longe de ser educativo, tapinha causa dor física e emocional


Além de machucar, as palmadas em crianças podem gerar adultos agressivos
Por Natalia do Vale

O tapinha está enraizado em nossa cultura, é o que provou a pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (26) . De acordo com os dados levantados, 54% dos brasileiros são contrários ao projeto de lei que veta palmadas, beliscões e castigos físicos em crianças.

Dos 10.905 entrevistados, apenas 36% se mostraram favoráveis à proposta do presidente Lula. Isso porque a maioria dos brasileiros (72%) já apanhou dos pais, já bateu nos filhos e pensa que o método não faz mal nenhum e é um auxílio na hora de educar a criança. O resultado da pesquisa vai contra a ideia defendida pelo governo e por ONG's de que "conversar é sempre melhor que bater".

Entendendo o projeto
O presidente Lula assinou na última semana um projeto de lei para proibir a prática de castigos físicos em crianças e adolescentes. A resolução foi feita em comemoração aos vinte anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que já instituía punição contra "maus tratos", mas não especificava os tipos de castigo que não podem ser usados por pais, mães e responsáveis.

Se a lei for aprovada, tapas, beliscões, puxões de orelha e outros tipos de castigos físicos poderão ser denunciados por pessoas que convivem com a família, como vizinhos e parentes, ao conselho tutelar. E as punições são as mesmas já previstas no ECA para pais e cuidadores, que vão desde encaminhamento a tratamentos psicológicos até advertência e possível perda da guarda.

Com isso, o governo deseja acabar com a banalização da violência dentro de casa, onde palmadas podem evoluir para surras, queimaduras, fraturas e até ameaças de morte. A medida é polêmica, mas vem ao encontro das tendências mundiais, já que atualmente mais de 25 países, entre eles Suíça, Áustria e Alemanha, apresentam políticas que visam coibir essa prática. Na América do Sul, apenas o Uruguai e a Venezuela adotaram lei semelhante.

Bater nunca é solução
Os especialistas em educação infantil já condenam há muito tempo, mas o famoso tapinha ainda é usado como método de ensino por pais que acreditam que esta seja uma maneira eficiente de impor respeito e educar.

O problema são os prejuízos físicos e afetivos que a atitude provoca aos pimpolhos. "O que é um tapinha para um adulto, não é para uma criança, bater nunca é a solução", explica a psicóloga Maria Amélia Azevedo, que conduziu um estudo pelo Instituto de psicologia da USP, em conjunto com a psicóloga Viviane Nogueira de Azevedo Guerra , relatando os efeitos negativos do tapinha e explicam que seu uso é uma questão cultural.

A pesquisa, que originou o livro Mania de Bater - A Punição Corporal Doméstica de Crianças e Adolescentes no Brasil concluiu que das 894 crianças entrevistadas, mais da metade revelou ter levado ao menos um tapinha em casa e, na maioria dos casos, foram as mães as responsáveis pela palmada. "As crianças sentem dor física e psicológica. Muitas das crianças avaliadas se mostraram revoltadas com os pais que, para elas, tinham se esquecido de que já foram crianças um dia", explica Viviane de Azevedo.

Tapinha dói sim
A dor sentida pela criança quando ela leva uma palmada não é apenas física. As palmadas costumam ferir os sentimentos da meninada, que não entende a razão de ter apanhado. Para elas, o que fica da lição é a violência como forma de punição.

"A criança não deve ser punida fisicamente. Deve ser educada. Se ela cresce sendo repreendida com violência, vai ser violenta também. Educação é antes de tudo, repetição", explica a terapeuta de casal e família Marina Vasconcellos. "Os pais ficam chocados quando chegam reclamações da escola sobre o comportamento agressivo dos filhos, mas basta ver que a reação é um dos efeitos da violência do tapinha usado por eles para educar."

A secretária Juliana Martins, mãe de Beatriz, 6 anos, conta que nunca havia dado palmadas na filha por achar que não era uma boa forma de educar, porém, um dia, de cabeça quente, a secretária deu um tapinha em Bia, que reagiu chorando muito. Desesperada por achar que tinha machucado a filha, Juliana perguntou o que houve, e a menina disse que doía mais no coração. "Nunca mais encostei um dedo nela. Até hoje me lembro dela falando com lágrimas nos olhos. Depois disso, percebi que conversar é sempre a melhor opção", conta a mãe.

Postura firme
Marina Vasconcellos explica que, muitas vezes, voz e postura firmes são suficientes para repreender os pimpolhos e que apontar os motivos da bronca é fundamental para que o processo de educação seja efetivo. "Não adianta colocar de castigo ou gritar. Se você não mostra o erro, nada irá funcionar, além do mais, a criança aprende o que é ensinado a ela. Se ensinar conversa, ela aprenderá conversa. Se ensinar com tapas, pode receber tapas em troca um dia", alerta a terapeuta.

Além disso, os pimpolhos podem encarar a punição à base de tapas como um caminho para confrontar os pais e, o método, que tinha como objetivo educar, acaba provocando o efeito contrário: "Como o tapa nunca vem seguido de explicações, desperta birra na criança, que vai cometer o mesmo erro para ver até onde os pais aguentam. Vira uma espécie de desafio", explica Marina. "Uma boa opção para o problema é nunca sair do eixo, assim, seus filhos não vão te testar, porque sabem que você perde o equilíbrio diante das travessuras deles", continua.

De acordo com a idade
Conversar com uma criança de dois anos não é a mesma coisa do que conversar com uma de 6 anos. Crianças muito pequenas entendem que estão sendo repreendidas, mas não conseguem perceber os motivos da bronca, por isso, Marina recomenda a paciência e a mudança de hábitos dos pais. "Tente mostrar por meio de atitudes o que está tentando explicar com palavras. Se ela não deve brincar na tomada, tire-a de lá e diga que não pode. Se ela bagunçou o brinquedo, tire-o dela e mostre onde ele deve ser colocado. Elas aprendem pela memória visual e pela repetição, falar não vai adiantar", explica a terapeuta.

Linguagem do afeto é ensinada com atitudes e não com violência

O amor entre pais e filhos se dá na base da construção. São carinhos, brincadeiras, cuidados e até broncas que alimentam estes laços de afetividade.

Quando a criança recebe palmadas como punição, aprende que dar palmadas também é bom e começa a construir laços agressivos.

"Se os pais batem, ela aprende que bater é legal. Se os pais punem com violência, ela vai sempre achar que desejos devem ser punidos e pode se tornar um adulto reprimido e até tímido", explica a terapeuta.

Hábito que se repete
Sabe aquele velho ditado "Os filhos são espelhos dos pais?" Segundo a terapeuta de casal e família, Marina Vasconcellos, quando uma criança cresce levando palmadas, pode usar o mesmo método com seus filhos no futuro, gerando um círculo vicioso: "A criança pode até achar ruim quando leva a palmada, mas quando ela cresce passa a achar natural, afinal, seus pais não iriam fazer nada de mal contra ela e, dessa forma, acaba repassando estes valores para os filhos. É pura repetição", finaliza Marina.
Alternativas
- Demonstre. Se a criança for pequena, tire dela o objeto ou a afaste da situação perigosa dizendo que não pode. Ela irá entender que não pode fazer aquilo.

- Mostre a sua autoridade. Pulso firme e voz ativa podem ajudar na hora de educar sem causar danos emocionais e físicos. "A criança já se intimida com o tom de voz", diz a terapeuta.

-Converse sempre. "Quando compreendemos nossos erros, evitamos sua repetição. Uma criança que deixa de fazer algo por repressão, mas não por um ato educativo, não aprende, apenas acumula reforços negativos e revolta", continua a especialista.

-Jogos educativos e brincadeiras podem ajudar a educar sem precisar apelar para o tapinha. Segundo Marina Vasconcellos, os jogos são grandes aliados da educação didática. Com eles, os pais podem ensinar limites e explicar erros brincando.

FONTE: yahoo

segunda-feira, 19 de julho de 2010

João Cândido (O Almirante Negro)


João Cândido – Patrono da Marinha Brasileira? – Por que não?

“Índios, brancos, negros e mestiços
Nada de errado em seus princípios.
O seu e o meu são iguais
Corre nas veias sem parar.”

Na música Etnia, Chico Science prega a harmonia entre as diversas etnias, muito diferente da nossa realidade atual e, principalmente, da realidade brasileira no período da República Velha.
A herança do período escravista deixou marcas na sociedade brasileira e seus reflexos são percebidos até os dias de hoje, nos quais nos deparamos com uma sociedade estratificada, marcada por preconceitos de todos os tipos, pouca mobilidade social e trabalho escravo em canaviais, carvoarias e garimpos.
Apesar das várias denúncias, do ativismo de algumas organizações não governamentais e algumas políticas públicas, por exemplo, a política de cotas para negros nas Universidades, para tentarem minimizar os efeitos maléficos dessa herança, os resultados ainda estão muito longe do ideal.
Durante o período da República Velha a herança do escravismo estava muito mais enraízada do que nos dias atuais. A lógica do branco dominador e do negro dominado, que era característica do período escravista, pouco, ou quase nada, divergia do período da República Velha no qual os brancos (barões do café) ditavam as regras em nossa sociedade.
Essa lógica era percebida em todas as agremiações, corporações e instituições. E não foram poucos os movimentos de contestação tanto no meio rural (a Guerra de Canudos, O Contestado, greves na zona rural e o Cangaço) como no meio urbano (a Revolta da Vacina, o Tenentismo, a Coluna Prestes e a Revolta da Chibata).
Em todos os movimentos de contestação algumas lideranças se destacaram. Mas, João Cândido teve um destaque ímpar na história brasileira pelo fato de ter se insurgido contra uma ordem vigente dentro de uma instituíção tão rígida como era a Marinha Brasileira. Além disso, o Almirante Negro se notabilizou, também, pelo fato de ter sido um oprimido que queria, de fato, acabar com a opressão, ao contrário de outros “heróis” brasileiros que, ao invés de querer acabar com a opressão, queriam sair da condição de oprimidos e passar a condição de opressores.
No período escravista, costumava-se dizer que o negro deveria ser tratado com três pês (pão para comer, pano para vestir e pau para apanhar), o que não divergia muito dos tratos recebidos pelos marinheiros brasileiros no princípio do século XX. Estima-se que 80% da “marujada” brasileira era constituída de negros e mulatos (oprimidos) enquanto a oficialidade era formada por antigos senhores de escravos (opressores), portanto, a lógica de dominação continuou a mesma, ou seja, o branco opressor x o negro oprimido.
Os marujos recebiam um soldo miserável, alimentavam-se com uma comida detestável, quando não estragada, e o pior, eram castigados com chibatadas, amarrados pelos pés e pelas mãos, em cerimoniais bárbaros, de “castigos exemplares”. Os navios da marinha brasileira mais pareciam os navios negreiros. Seqüelas que herdamos dos mais de 300 anos de escravismo. A Revolta da Chibata, portanto, foi um movimento pela “abolição da escravatura” nessa instituíção.

“Quando o ideal é maior do que a vida, vale apena arriscar a vida pelo ideal”.

A frase, de domínio popular, exemplifica muito bem a luta de João Cândido em busca de um tratamento digno e humano para aqueles que dedicavam suas vidas em prol da pátria.
“Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na marinha brasileira”. Esse foi o ultimato, dos marinheiros, dirigido ao Presidente Hermes da Fonseca e, expressa, perfeitamente, a situação limite da “marujada”.

“Até quando esperar, a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus”.

Até quando esperar? O título da música da Plebe Rude era o mesmo questionamento que os marinheiros se faziam. Mas, liderados por João Cândido, a plebe não esperou a ajuda divina e partiu para a ofensiva.
Os revoltosos tomaram o comando do encouraçado Minas Gerais e de outros navios e ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro (Capital Federal na época), caso o governo federal não aceitasse suas reivindicações.
O governo, pressionado pelo movimento, resolveu ceder às reivindicações dos marinheiros, inclusive comprometendo-se a não punir os rebeldes.

“Meu irmão se liga no que eu vou lhe dizer
Hoje ele pede seu voto amanhã manda os homens lhe prender”.

A prática dos políticos brasileiros, tão bem expressa na letra da música “Candidato caô caô” de Bezerra da Silva, também foi a prática do então presidente Hermes da Fonseca que, descumpriu o acordo, expulsando vários revoltosos da Marinha brasileira. Vários marinheiros rebeldes foram presos e sumariamente executados. Outros, deportados para a Amazônia, obrigados a trabalhar principalmente na extração de borracha. João Cândido foi preso, depois encaminhado para um hospital psiquiátrico e, em 1914, foi anistiado.
Sua liderança no movimento da Revolta da Chibata lhe rendeu algumas homenagens como a canção “O Mestre-sala dos Mares” dos compositores João Bosco e Adir Blanc, o projeto de lei nº 5874/05, determinando escrever o nome de João Cândido, no Livro dos Heróis da Pátria e, uma estátua , de corpo inteiro, nos jardins do Museu da República. Porém, apesar das homenagens, João Cândido ainda sofreu várias humilhações antes de falecer, como por exemplo, a interrupção de uma homenagem que estava sendo feita para ele, quando de seu retorno ao Rio Grande do Sul (Estado em que nasceu). A cerimônia foi suspensa pela Marinha do Brasil.
Percebemos que a instituição a que ele dedicou boa parte de sua vida, não lhe confere o devido reconhecimento. Mas por quê? Será que o comando da marinha continua o mesmo? (brancos opressores). Seu suposto comportamento subversivo deveria ser louvado pela Marinha, pois foi em prol de um bem maior que era a busca de dignidade para todos os marinheiros.
Sem desmerecer os feitos do Almirante Talmandaré (Patrono da Marinha Brasileira), os feitos de João Cândido podiam muito bem lhe conferir o título de Patrono da Marinha, pois ele lutou, efetivamente, por melhorias para os marinheiros. Já o Almirante Tamandaré, apesar de ter lutado em causas nobres (como a guerra de Independência do Brasil), também lutou por causas cuja a nobreza pode ser questionada (Guerra do Paraguai e a repressão as revoltas do período regencial: a Cabanagem, a Sabinada, a Farroupilha, a Balaiada e a Praieira).
Cabe então o seguinte questionamento: Por que João Cândido não pode ser o Patrono da Marinha? Será que é pelo fato dele ser negro? Pelo sim, ou pelo não, cabe a reflexão.

“A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra”.

No rap “Carta a mãe África” o poéta do Rap Nacional G.O.G. (Genival de Oliveira Gonçalves) expressa o sentimento de milhões de brasileiros que, de alguma forma, são excluidos da sociedade, e foi por esses brasileiros que João Cândido lutou.

Francisco Celso

DJ's Contra a Fome em ação

Confiram os DJ's Contra a Fome em ação no dia 20/11/2009 (Dia da Consci~encia Negra) no CEF 602 do Recanto das Emas-DF

http://www.youtube.com/watch?v=Ll1uqTVmvB8

DJ's Contra a Fome


DJs Contra a Fome
Distrito Federal, Brazil
É um projeto musical de Djs nas escolas e faculdades para ajudar no combate à fome, no Distrito Federal e Entorno.
O objetivo é oferecer acesso por meio de palestras, discotecagem e MC no ambiente escolar/acadêmico, além da doação de alimentos às comunidades carentes. A proposta envolve TECNOLOGIA, EDUCAÇÃO, ENTRETENIMENTO, CIDADANIA E CULTURA. Uma realização da ONG ACESSO, com patrocínio do FAP/DF e da Mediateca, e com produção da Griô.

saiba um pouco mais sobre esse lindo projeto acessando:

www.djscontraafome.blogspot.com

Rapadura Xique-Chico



“O rapper é aquele que faz apenas rap. Não me defino como rapper por que não faço rap, faço rapente”.
RAPadura Xique-Chico


RAPadura chegou disposto a “embolar” e “movimentar” o cenário musical brasileiro. Considerado pelo Prêmio Hutúz 2009 o melhor artista Norte/Nordeste do século XXI, o cearense Francisco Igor Almeida do Santos, mais conhecido como RAPadura Xique-Chico, é uma das maiores revelações da música brasileira nos últimos anos.
O jovem artista vem despertando a admiração de importantes figuras da música brasileira como Lenine, Marcelo D2, GOG, MV Bill, Happin Hood e muitos outros que se renderam ao “rapente”, som que só ele faz.
“Rapadura é tudo que existe de moderno e autêntico na nova música brasileira, um rap contundente, ideológico e totalmente mergulhado na rica cultura nordestina. Não dou seis meses para ele estar viajando pelo mundo, por estar à frente do seu tempo, e com certeza ter condições de provar que o Rap Brasileiro tem uma nova cara. A cara do Brasil. Finalmente!”. - Ferréz, escritor

Integrante de uma produtiva safra da música popular brasileira, RAPadura pode ser considerado um artista de vanguarda. A inusitada “embolada” do rap com o repente, o coco, o maracatu, a capoeira, o forró, o baião e as cantigas de roda, fazem dele um dos percussores no século XXI de um movimento em defesa da cultura popular que surge da integração do rap contemporâneo à música de raiz.
RAPadura desenvolve um trabalho voltado para o universo do canto falado. Uma mistura arrojada de rap com a tradição da cultura popular brasileira. Suas letras são contundentes e exalam uma linguagem poética sem perder a identificação com o povo. Falam do Nordeste, da seca, do agricultor, da mulher rendeira e também falam da cidade e dos processos de urbanização.
“Vejo o meu trabalho como uma verdadeira preservação das nossas raízes culturais do Brasil.” - RAPadura
Exportando o sumo da cana para o mundo, o público que vai ao show do RAPadura Xique-Chico pode conferir uma verdadeira celebração, onde tem-se no palco uma comprometida parceria com artistas e ativistas do campo e da cidade, ou seja, Art’vistas.
Para quem já compartilhou dos mesmos eventos e palcos que Lenine, Gerson King Combo, Detonautas, Paulo Diniz, Maria Rita, Jorge Aragão, MV Bill, Gog e Racionais MC’s, o desafio agora é atender ao chamado para uma missão mais do que especial: representar seu Norte e Nordeste, levar sua cultura para os quatro cantos do mundo.
Este é o RAPadura Xique-Chico, artista ímpar na cultura brasileira. RAPadura por essência, Xique por resistência, Chico por sorte de ‘bença’.
“Não vejo cabra da peste, só carioca e paulista, só freestyleiro em nordeste, não querem ser repentistas, rejeitam xilogravura, o cordel que é literatura, quem não tem cultura, jamais vai saber o que é RAPadura!”

Trecho da música “Norte Nordeste me veste”.

Seu primeiro álbum "Fita Embolada do Engenho" já está a venda. Para conhecer o som do RAPadura acesse: www.rapaduraxc.com.br

"... por isso que eu não me visto daquilo que tava previsto"

RAPadura

Colecionador de Pedras (esse livro eu recomendo)


"O RESULTADO DE ESCOLA COM EDUCAÇÃO MÍNIMA
É PRESÍDIO DE SEGURANÇA MÁXIMA."

Sergio Vaz

Sergio Vaz é um dos maiores poetas da chamada "Literatura Marginal Brasileira", mas lembrando que o termo "marginal" aqui tem a conotação sociológica do termo e não a conotação da cultura brasileira que associou o termo ao banditismo e a criminalidade. Eis a conotação sociológica do termo:
Em sociologia, marginalização é o processo social de se tornar ou ser tornado marginal (relegar ou confinar a uma condição social inferior, à beira ou à margem da sociedade). Ser marginalizado significa estar separado do resto da sociedade, forçado a ocupar as beiras ou as margens e a não estar no centro das coisas. Pessoas marginalizadas não são consideradas parte da sociedade.

Parafrasiando Hélio Oiticica "Seja marginal, seja herói", pois pra quem está as margens da sociedade cada dia de vida a mais é, por si só, um ato heróico, pois as pedras no caminho são muitas.

Para saber mais sobre o Sergio Vaz acesse www.colecionadordepedras1.blogspot.com

"Enquanto eles capitalizam a realidade eu socializo meus sonhos"

Sergio Vaz

sábado, 17 de julho de 2010

Estatudo da Igualdade Racial


No dia 16/06/2010 o Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado por unanimidade nesta quarta-feira pela CCJ (Comissão de Constituição de Justiça) do Senado, depois de dez anos de tramitação no Congresso. Porém os principais pontos defendidos pelo movimento negro ficaram de fora, como, por exemplo, as cotas universitárias e os insentivos fiscais a empresas com mais de 20 empregados que mantenham uma cota mínima de 20% de trabalhadores negros.
Representantes de movimentos de afrodescendentes que acompanharam a votação se disseram frustrados com o esvaziamento do projeto, mas afirmaram que a aprovação é uma vitória para a população negra.

"Identificamos que a não aprovação do estatuto constituiria um entrave à efetiva emancipação e desenvolvimento dos negros deste país", afirmou Nuno Coelho, coordenador nacional do Movimento dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil.

Segundo Coelho, o texto é um ponto de partida para que o governo e o Congresso passem a discutir políticas destinadas aos negros. Ele disse que os movimentos já estão articulando com congressistas propostas para cada um dos trechos suprimidos do texto inicial.

Como o projeto é do Senado e já foi alterado e aprovado pela Câmara, os senadores só puderam suprimir artigos e trechos e fazer emendas de redação.

Ponto de vista: Ao meu ver apesar do esvaziamento do projeto, o Estatuto aprovado significa um passo adiante no caminho da eqüidade e não um retrocesso. Porém é importante dar nome aos bois. Os responsáveis pelo esvaziamento do projeto foram os representants das elites que estão reunidos, principalmente em torno de duas siglas: DEM/PSDB. Vejamos as palavras do relator do projeto, senador Demóstenes Torres (DEM-GO): "O acesso à universidade e ao programa de pós-graduação, por expressa determinação constitucional, deve se fazer de acordo com o princípio do mérito e do acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística segundo a capacidade de cada um."

Ora, esse discurso da meritocracia não cola mais, pois qual é o mérito de uma pessoa vencer uma corrida de 200m largando 150m a frente?

Como diz o Mano Brown, pelo fato de ser preto você tem que ser duas vezes melhor, mas como ser duas vezes melhor se você está cem vezes atrazado?

As cotas não podem ser vistas como um privilégio ou um agrado, mas sim como uma justiça reparadora, como um pagamento uma dívida histórica que o país tem para com os afro-descendentes que tiveram oportunidades negadas e acesso restrito a bens básicos como saúde, educação e emprego.

Se por um lado identificamos os algozes, agora temos que tirar o chapéu para quem merece!!! Estou me referindo ao presidente Lula, pois muitos avanços na busca pela eqüidade se deram durante a sua gestão!!! Listarei algumas delas a seguir:
-2003 Aprovação da Lei 10.639 que torna obrigatório o Ensino da História e da Cultura Afro-brasileira nas Escolas;
-2008 Aprovação da Lei 11.645 que inclui, também a obrigatoriedade do ensino da História e da cultura indigena;
-15/07/2008 A Capoeira, finalmente, se torna Patrimônio Cultural do Brasil;
-2010 Aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.

As eleições estão se aproximando e deixo a seguinte reflexão pra vocês: Continuar os avanços em busca da eqüidade elegendo a sucessora de Lula (Dilma) ou voltar ao retrocesso dos tempos de FHC votando em S...?

Meu voto é: 13 confirma.

Francisco Celso

Eleições 2010


As campanhas eleitorais já começaram e com elas alguns discursos preocupantes estão se difundindo principalmente aqui em Brasília onde a populção está indignada com tantos escandalos de corrupção. Os discursos aos quais eu me refiro são aqueles em prol dos votos nulos ou brancos. Creio que esse não é o melhor caminho, pois a partir do momento que você abdica do direito de escolher seus representantes, você além de permitir que outros escolham por você, você perde a legitimidade para poder cobrar dos mesmos. Usarei de metáforas para que vocês possam vizualizar com mais clareza o que eu quero dizer: 1ª situação - Vamos supor que você fosse a uma sorveteria e pedisse um sorvete, mas sem especificar o sabor, ao abdicar de escolher o sabor você deu direito que o sorveteiro escolhese por você, por tanto, gostando ou não do sabor, você não teria legitimidade para reclamar. 2ª situação - Você foi a sorveteria e escolheu um sorvete de chocolate, porém, o sorveteiro le deu um de morango, aí sim você tem todo direito de reclamar, pois você não teve as espectativas do seu pedido atendidas. Agora convenhamos, se você não dá o direito ao sorveteiro de escolher o sabor do seu sorvete, por que deixar que alguém escolha, no seu lugar, os seus representantes? O que vale mais o voto ou o sorvete? As bolas estão sendo trocadas bem na nossa frente e muitos não percebem!!!

Hibridísmo no RAP


Segue o release do grupo Ataque Beliz!!! para conhecer um pouco mais do som dos caras é só acessar www.ataquebeliz.com.br

No site está disponível para download o CD Reconceito, álbum de trabalho do grupo.

Bom som, bom show!!!

Semeador de Utopias

A inspiração para o título desse blog foi um livro chamado "O Semeador de Utopias" de Marcel Burstyn. Uma frase do próprio Marcel que sintetiza as idéias do livro é a seguinte: "Quanto mais próxima de seus objetivos utópicos, mais moderna é uma sociedade."

Francisco Celso

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Aniversário de 20 anos do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)

No último dia 11/07/2010 foi comemorado os 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Apesar das várias criticas feitas ao Estatuto eu o vejo como um avanço e não como um retrocesso. Porém, acho que a data não deve ser somente de comemoração, mas sim de reflexão, pois nossa juventude está cercada de más influências e muitos não conhecem seus direitos e não sabem como cobrá-los, ou seja, estão exclusos da cidadania. Não podemos deixar que essa juventude se perca, pois como diz o meu amigo Magú, eles são as "sementes do amanhã". Portanto vamos cercalos de bons exemplos e boas influências.

Francisco Celso
http://www.youtube.com/watch?v=gAVVeSmQPQE

Um pouquinho de MPB (Música Periférica Brasileira)


Acessem o site a seguir e confiram um pouco do trabalho do poeta do RAP Nacional, o GOG (Genival de Oliveira Gonçalves)
www.gograpnacional.com.br

ONDE ESTÃO OS HOMENS CAÇADOS NESTE VENTO DE LOUCURA


O sangue caindo em gotas na terra
homens morrendo no mato
e o sangue caindo, caindo...
Fernão Dias para sempre na história
da Ilha Verde, rubra de sangue,
dos homens tombados
na arena imensa do cais.
Aí o cais, o sangue, os homens,
os grilhões, os golpes das pancadas
a soarem, a soarem, a soarem
caindo no silêncio das vidas tombadas
dos gritos, dos uivos de dor
dos homens que não são homens,
na mão dos verdugos sem nome.
Zé Mulato, na história do cais
baleando homens no silêncio
do tombar dos corpos.
Aí, Zé Mulato, Zé Mulato.
As vítimas clamam vingança
O mar, o mar de Fernão Dias
engolindo vidas humanas
está rubro de sangue.

- Nós estamos de pé -
Nossos olhos se viram para ti.
Nossas vidas enterradas
nos campos da morte,
os homens do cinco de Fevereiro
os homens caídos na estufa da morte
clamando piedade
gritando p'la vida,
mortos sem ar e sem água
levantam-se todos
da vala comum
e de pé no coro de justiça
clamam vingança...
... Os corpos tombados no mato,
as casas, as casas dos homens
destruídas na voragem
do fogo incendiário,
as vias queimadas,
erguem o coro insólito de justiça
clamando vingança.
E vós todos carrascos
e vós todos algozes
sentados nos bancos dos réus:
- Que fizeste do meu povo?...
- Que respondeis?
- Onde está o meu povo?...
E eu respondo no silêncio
das vozes erguidas
clamando justiça...
Um a um, todos em fila...
Para vós, carrascos,
o perdão não tem nome.
A justiça vai soar,
E o sangue das vidas caídas
nos matos da morte
ensopando a terra
num silêncio de arrepios
vai fecundar a terra,
clamando justiça.
É a chamada da humanidade
cantando a esperança
num mundo sem peias
onde a liberdade
é a pátria dos homens...


Alda do Espírito Santo

Arte que transforma a vida que transforma a arte


É o povo na arte
É arte no povo
E não o povo na arte
De quem faz arte com o povo

Chico Sciense



É a minha vez de propor uma equação: colonização-coisificação.
Já ouço a trovoada. Falam-me de trovoada, de "realizações", de doenças curadas, e de níveis de vida elevados acima de si próprios.
Eu falo de sociedade esvaziadas de si próprias, de culturas espezinhadas, de instituições minadas, de terras confiscadas, de religiões assassinadas, de magnificências artísticas enfraquecidas, de possibilidades extraordinárias suprimidas.
Atiram-me à cabeça com fatos, estatísticas, quilômetros de estradas, canais e ferrovias.
Eu falo de milhares de homens sacrificados no Congo.
Falo dos que, à mesma hora em que escrevo, escavam à mão o porto de Abidjan. Falo dos milhões de homens arrancados aos seus deuses, hábitos, vidas, à vida, à dança e à sabedoria.
Enchem-me os olhos com toneladas de algodão ou de cacau exportadas, com hectares de plantações de olivais ou de vinha.
Eu falo de economias naturais e de economias harmoniosas e viáveis que, apesar de serem desorganizadas, estavam à medida do homem indígena, e que foram destruídas juntamente com as suas culturas alimentares, falo de subalimentação crônica, de desenvolvimento agrícola orientado para benefício exclusivo das metrópoles, de saque de produtos e de matérias-primas.


Aimé Césaire

"Chegou a hora de colher o progresso"


Iniciado em Dezembro de 2003, o grupo de rap Diga How é composto por Magú (Jaime Silva), John (John Ferreira) e conta com o apoio de Tg (Tiago Damião) e dj Willian em suas apresentações.

Suas influências vão de GOG, Raul Seixas e Elis Regina à Valete, Wu Tang Clan e Paul Mauriat.

A proposta do grupo é estimular a consciência de um público tão variado quanto os temas de suas letras, que falam de assuntos como energia nuclear (Núcleo do horror), a importância na educação das crianças (Sementes do amanhã) e do incentivo à leitura e seus benefícios (Quem lê, viaja).

Essa variação temática proporcionou ao Diga How participações em eventos importantes como Outubro Black, Todas as tribos, II Congresso de educação do Df entre alguns festivais de música, no qual ganhou troféu de melhor letra (Festival de Música popular da Samambaia), melhor música pelo voto popular (Festival de mpb Parque Sucupira) e melhor grupo de rap (Concurso de Hip Hop do Varjão).

O grupo acaba de lançar seu primeiro álbum - Homônimo, que conta com 16 faixas e várias participações, incluindo a do poeta do rap nacional, Gog.

Para conhecer um pouco mais sobre o Diga How, acesse: www.digahow.com.br

Quebrando preconceitos...

O RAP é visto por boa parte da população como som de bandido e muitos que reproduzem esse discurso não tem conhecimentos prévios a respeito do RAP para emitir juízo de valor. A termo RAP significa rhythm and poetry ( ritmo e poesia ). O RAP surgiu na Jamaica na década de 1960. Este gênero musical foi levado pelos jamaicanos para os Estados Unidos, mais especificamente para os bairros pobres de Nova Iorque, no começo da década de 1970. Jovens de origens negra e espanhola, em busca de uma sonoridade nova, deram um significativo impulso ao RAP.

O rap tem uma batida rápida e acelerada e a letra vem em forma de discurso, muita informação e pouca melodia. Geralmente as letras falam das dificuldades da vida dos habitantes de bairros pobres das grandes cidades. As gírias das gangues destes bairros são muito comuns nas letras de música rap. O cenário rap é acrescido de danças com movimentos rápidos e malabarismos corporais. O break, por exemplo, é um tipo de dança relacionada ao rap. O cenário urbano do rap é formado ainda por um visual repleto de grafites nas paredes das grandes cidades.

No começo da década de 1980, muitos jovens norte-americanos, cansados da disco music, começaram a mixar músicas, e criar sobre elas, arranjos específicos. As músicas de James Brown, por exemplo, já serviram de base para muitas músicas de rap. O MC ( mestre-de-cerimônias) é o responsável pela integração entre a mixagem e a letra em forma de poesia e protesto. É considerado o marco inicial do movimento rap norte-americano, o lançamento do disco Rapper’s Delight, do grupo Sugarhill Gang.

Entendendo o Rap

Geralmente, o rap é cantado e tocado por uma dupla composta por um DJ ( disc-jóquei ), que fica responsável pelos efeitos sonoros e mixagens, e por MCs que se responsabilizam pela letra cantada. Quando o rap possui uma melodia, ganha o nome de hip hop.
Um efeito sonoro muito típico do rap é o scratch (som provocado pelo atrito da agulha do toca-discos no disco de vinil). Foi o rapper Graand MasterFlash que lançou o scratch e depois deles, vários scratchings começaram a utilizar o recurso : Ice Cube, Ice T, Run DMC, Public Enemy, Beastie Boys, Tupac Shakur, Salt’N’Pepa, Queen Latifah, Eminem, Notorious entre outros.

Anos 80: auge do rap e mudanças

Na década de 1980, o rap sofreu uma mistura com outros estilos musicais, dando origem à novos gêneros, tais como: o acid jazz, o raggamufin (mistura com o reggae) e o dance rap. Com letras marcadas pela violência das ruas e dos guetos, surge o gangsta rap, representado por Snoop Doggy Dogg, LL Cool J, Sean Puffy Combs, Cypress Hill, Coolio entre outros.
Nas letras do Public Enemy, encontramos mensagens de cunho político e social, denunciando as injustiças e as dificuldades das populações menos favorecidas da sociedade norte-americana. É a música servindo de protesto social e falando a voz do povo mais pobre.

Movimento Rap no Brasil

O rap surgiu no Brasil em 1986, na cidade de São Paulo. Os primeiros shows de rap eram apresentados no Teatro Mambembe pelo DJ Theo Werneck. Na década de 80, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este estilo musical como sendo algo violento e tipicamente de periferia.
Na década de 1990, o rap ganha as rádios e a indústria fonográfica começa a dar mais atenção ao estilo. Os primeiros rappers a fazerem sucesso foram Thayde e DJ Hum. Logo a seguir começam a surgir novas caras no rap nacional : Racionais MCs, Pavilhão 9, Detentos do Rap, Câmbio Negro, Xis & Dentinho, Planet Hemp e Gabriel, O Pensador.
O rap começava então a ser utilizado e misturado por outros gêneros musicais. O movimento mangue beat, por exemplo, presente na música de Chico Science & Nação Zumbi fez muito bem esta mistura.

Nos dias de hoje o rap está incorporado no cenário musical brasileiro. Venceu os preconceitos e saiu da periferia para ganhar o grande público. Dezenas de cds de rap são lançados anualmente, porém o rap não perdeu sua essência de denunciar as injustiças, vividas pela pobre das periferias das grandes cidades.

Como vimos, boa parte do preconceito em relação ao RAP faz-se pelo fato dele ser um som predominantemente de periferia. O RAP (Ritmo e Poesia) segue a seguinte estrutura: Escreve-se uma história (geramente fatos reais do cotidiano dos guetos), transforma essa história em uma poesia e por último encixa-se uma base musical. Se em muitas letras o RAP retrata o banditismo, o crime e as drogas é porque, infelizmente esse é o contexto dos moradores de periferia. Porém não quer dizer que a periferia se resume a essas mazelas, muito pelo contrário, e a prova disso é que o RAP nacional está repleto de artistas que retratam a periferia de forma positiva mostrando o que ela tem de melhor, como por exemplo: GOG, Diga How, Ataque Beliz, RAPadura, Marcão Aborígine, Nego Dé, Vera Verônica,... Nos próximos posts mostrarei um pouco do trabalho desses artistas pra vocês. Abraços

Francisco Celso

Periferia tem talento


No último dia 09/07 foi lançado no American Rock Bar o CD Histera, segundo álbum da Banda 10zer04. Hystera é um termo grego que significa útero. Na Grécia antiga, Hipócrates, considerado pai da medicina, fez surgir a expressão histeria para classificar uma condição peculiar às mulheres que demonstravam comportamento colérico. Segundo o filósofo grego, a doença era causada por perturbações no útero. A histeria na Idade Média era sinônimo de possessão demoníaca, e, levou muitas mulheres às fogueiras do Santo Ofício. Mais tarde a psicanálise freudiana observou que tal distúrbio não era exclusividade feminina, atribuindo a "neurose" aos homens também. Mas, a histeria está longe de ser considerada pecado ou doença pela banda 10ZER04. O Cd pode ser baixado pelo site da banda: www.dzq.com.br