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sexta-feira, 16 de julho de 2010




É a minha vez de propor uma equação: colonização-coisificação.
Já ouço a trovoada. Falam-me de trovoada, de "realizações", de doenças curadas, e de níveis de vida elevados acima de si próprios.
Eu falo de sociedade esvaziadas de si próprias, de culturas espezinhadas, de instituições minadas, de terras confiscadas, de religiões assassinadas, de magnificências artísticas enfraquecidas, de possibilidades extraordinárias suprimidas.
Atiram-me à cabeça com fatos, estatísticas, quilômetros de estradas, canais e ferrovias.
Eu falo de milhares de homens sacrificados no Congo.
Falo dos que, à mesma hora em que escrevo, escavam à mão o porto de Abidjan. Falo dos milhões de homens arrancados aos seus deuses, hábitos, vidas, à vida, à dança e à sabedoria.
Enchem-me os olhos com toneladas de algodão ou de cacau exportadas, com hectares de plantações de olivais ou de vinha.
Eu falo de economias naturais e de economias harmoniosas e viáveis que, apesar de serem desorganizadas, estavam à medida do homem indígena, e que foram destruídas juntamente com as suas culturas alimentares, falo de subalimentação crônica, de desenvolvimento agrícola orientado para benefício exclusivo das metrópoles, de saque de produtos e de matérias-primas.


Aimé Césaire

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