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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os Miseráveis




Vítor nasceu

No Jardim das Margaridas.

Erva daninha

Nunca teve primavera.

Cresceu sem pai

Sem mãe

Sem norte

Sem seta.

Pés no chão

Nunca teve bicicleta.

Hugo não nasceu, estreou

Pele branquinha

Nunca teve inverno.

Tinha pai

Tinha mãe

Caderno

E fada madrinha.

Vítor virou ladrão

Hugo salafrário

Um roubava pro pão

O outro pra reforçar o salário.

Um usava capuz

O outro, gravata.

Um roubava na luz

O outro, em noite de serenata.

Um vivia de cativeiro

O outro, de negócio

Um não tinha amigo, parceiro

O outro, tinha sócio.

Retrato falado

Vítor tinha a cara na notícia,

Enquanto Hugo

Fazia pose pra revista.

O da pólvora

Apodrece penitente.

O da caneta

Enriquece impunemente.

A um só resta virar crente

O outro, é candidato a presidente.



Sérgio Vaz

SOMOS A ÁFRICA


Por Alessandro Oliveira

O racismo não é concebido no momento em que nascemos. Ele é produto de um tecido ideológico forjado a partir de uma infinidade de interesses políticos, econômicos, sociais e culturais. A escravidão moderna impeliu ao negro a classificação de “escravo por excelência”. Tal brutalidade histórica foi forjada sob a égide de uma ideologia que buscava mão de obra abundante para a expansão européia no “novo mundo”.

Desumanizar os povos africanos trazidos para as terras do além-mar serviu para que a barbárie praticada contra eles tomasse o aspecto de uma atividade moralmente justificada perante a sociedade. Açoites, estupros e privações, se acometidos contra os escravos, faziam parte de uma desafinada sinfonia do terror, que era apreciada por um mundo que não enxergava o negro como ser humano.

Infelizmente esta sinfonia do terror ainda ecoa no presente por vozes que difundem que o fenótipo negro é feio; que defendem superioridade rácica; que ensinam que as crenças religiosas africanas são maléficas; vozes que excluem. Mas, não são apenas as vozes que gritam a exclusão e o preconceito que ensurdecem os ouvidos da Humanidade. As vozes que se calam diante da barbárie são tão cruéis quanto às vozes dos que falam.

Há um pedido de Bertold Brecht que se faz necessário citar: “Desconfiemos, desconfiemos sempre do que aparenta singelo e habitual. Não aceitemos o que é de hábito como coisa natural; e, principalmente, carreguemos a certeza de que nada é natural, nada é impossível de mudar.”

Clama-se! Levantemos vozes para calar a exclusão. Exercitemos a audição para ouvir o grito dos excluídos. Mantenhamos os olhos abertos para reconhecer injustiças. Usemos nossas mãos para ajudar o próximo.

Que o ritmo dos tambores africanos inspire os homens do mundo inteiro a compor uma harmonia consonante com a justiça social.

A natureza é multicolorida, a "alma" não tem cor. Só existe a raça humana. Neste 20 de Novembro, lembremos que somos o mundo, somos a África.

domingo, 28 de novembro de 2010

GOG é entrevistado pelo projeto Produção Cultural no Brasil

“O músico independente tem de trilhar vários caminhos. Eu tenho várias ações dentro do meu trabalho, eu sou responsável por grande parte da produção, eu gerencio várias coisas dentro da minha carreira.”
GOG, Genival Oliveira Gonçalves, é rapper. Nasceu na cidade satélite de Sobradinho, no Distrito Federal, em 1965. Em 1973 mudou-se para Guará II, cidade que foi o cenário de suas primeiras influências: o convívio com os primos amantes da black music, os vinis, a formação do grupo de dança “Magrello’s Pop Funk”, que daria origem ao grupo de Rap “Os Magrello’s”, a iniciação no break, a chegada ao rap. Em 1990, recebeu o convite do DJ Leandronik para participar da coletânea “Rap Ataca”, do selo Kaskata’s, e gravou música “A Vida”, sua primeira gravação oficial. Em 1992, em parceria com o selo de rap Discovery, lança o compilado “Peso Pesado” e seu nome passa a ser mais conhecido no país. De 1994 a 2000 lançou mais quatro discos: “Dia a Dia da Periferia”, “Prepare-se!”, ”Das Trevas à Luz”, ”CPI da Favela” e várias músicas desses trabalhos tornaram-se sucesso. Em 2004, “Tarja Preta” recebeu o Prêmio Hutúz de melhor disco do ano.

Trechos da entrevista

“Era impossível para um jovem de periferia, adolescente de periferia, ter uma banda com baixo, bateria, guitarra, teclado – muito caro! E, a partir do momento que você pode, chega uma oportunidade de você cantar em cima de um instrumental, de um disco – vinil eu tinha em casa de montes.”

“A grande locomotiva do hip hop é o DJ. O DJ é quem dá o tom da caminhada – e o DJ essencialmente é criativo, ele procura formatos, novas caminhadas… Então os grooves, ou seja, as batidas, o bumbo, a caixa, o chimbau, ele vem evoluindo, ninguém quer ter o som do verão passado. Então o DJ quer trabalhar, ele quer colocar algo de novo, e isso faz com que nós, rappers, também caminhemos lado a lado: tua levada tem que melhorar, a letra tem que evoluir, temos que continuar dentro da nossa criatividade”

Veja a entrevista na íntegra: http://www.youtube.com/watch?v=avriFO6kf2E&feature=player_embedded

Prêmio Hip Hop Zumbi


Sujestões de voto para o Prêmio Hip Hop Zumbi:

01: Melhor Demo/Single
GOG – Brasília Outros 50
02: Melhor Álbum
Diga How – Homônimo
03: Melhor Clipe
Radicalibres – Observado Observando
04: Multiplicação da Revolução (Ativismo no Hip Hop)
Aspcel
05: Premio Mídia e Comunicação (Zine, Blog, Site, Etc.)
Revista D'Role
06: Melhor Artista ou Crew de Breaking
BSBgirls
07: Melhor Artista ou Crew de Grafite
Vomito Terror
08: Prêmio Raiz e Essência
Vera Veronika
09: Prêmio "100 Pre-conceito" (Reconhecer iniciativas de promoção da equidade racial)
Prof. Glória: Semana da consciência negra CEF 412 Samambaia
10: Melhor DJ
DJ Chocolaty
11: Prêmio Reconhecimento
Satão DF Zulu
12: Melhor Produtor/Produtora musical
Higo Melo
13: Prêmio Hip Hop Mulher
Vera Verônika

link: http://www.premiohiphopzumbi.blogspot.com/

sábado, 20 de novembro de 2010

Viva ao 20 de novembro!!! Zumbi vive!!!


Zumbi, herói de Palmares, herói negro brasileiro


Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver.

Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.

No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.

Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu "governo" a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.

O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695.

Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

domingo, 14 de novembro de 2010

Manifesto dos Brancos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Este texto é um manifesto escrito e subscrito por brancos que compõem a comunidade escolar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele é uma retumbante admissão pública, por nossa parte, de que vivemos em um contexto de exclusão estrutural de negros e indígenas dos benefícios e espaços de cidadania produzidos por nossa sociedade e onde, ao mesmo tempo, é produzida uma teia de privilégios a nós brancos, que torna completamente desigual e desumana nossa convivência. Somos opressores, exploradores e privilegiados mesmo quando não queremos ser. O racismo não é um “problema dos negros”, mas também dos brancos. É pelo reconhecimento destes privilégios que marcam toda nossa existência, mesmo que nós brancos não os enxerguemos cotidianamente, que exigimos a imediata aprovação de Ações afirmativas de Reparação às populações negras e indígenas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

No Brasil vivemos em um estado de racismo estrutural. Já é comprovado que raça é um conceito biologicamente inadmissível, só existe raça humana e pronto. Mas socialmente, nos vemos e construímos nossa realidade diária em cima de concepções raciais. Portanto, raça é uma realidade sociológica. Não é uma questão de que eu ou você sejamos pessoalmente preconceituosos. Mas é só olhar para qualquer pesquisa que veremos como existe um processo de atração e exclusão de pessoas para estes ou aqueles espaços sociais, dependendo de sua cor. Não é à toa que não temos quase médicos negros, embora eles sejam a maioria nas filas dos postos de saúde; que quase não vemos jornalistas negros, mas estes são expostos diariamente em páginas policiais; que não temos quase professores negros, especialmente em posições com melhores salários, e vemos alunos negros apenas em escolas públicas enquanto, na universidade pública quase só encontramos brancos.

A situação dos indígenas não é diferente, quando eles ainda sofrem lutando pelo direito mínimo de ter suas terras e aldeias, mesmo isso lhes é surrupiado pelos brancos. Vamos parar com esta falácia de dizer que não aceitamos cotas raciais na universidade, porque não queremos ser racistas: se vivemos no Brasil, se fomos criados nesta cultura, se construímos nossas vidas dentro deste conjunto de relações onde a raça é um elemento determinante, somos todos racistas! Não fujamos da realidade. Não usemos a falsa desculpa de que não queremos criar divisões entre raças no Brasil. Nossa sociedade poderia ser mais dividida racialmente do que já é hoje?

O estudo de Marcelo Paixão intitulado “Racismo, pobreza e violência”, compara o IDH dos brancos e dos negros dentro do Brasil. O IDH tenta medir a qualidade de vida das populações, combinando os três fatores que, por abranger, cada qual, uma imensa variedade de outros, seriam os essenciais para a medição: renda por habitante, escolaridade e expectativa de vida. Na última versão do IDH, de 2002, o Brasil ocupa o 73º lugar entre 173 países avaliados, mesmo possuindo todas as riquezas nacionais e sendo o 11º país mais desenvolvido economicamente no mundo. Porém, entre 1992 e 2001, enquanto em geral o número de pobres ficou 5 milhões menor, o dos pretos e pardos ficou 500 mil maior. [Consideram-se brancos 53,7% dos brasileiros; pretos ou pardos, 44,7%, que chamaremos, hora em diante de negros]. O estudo mostra que Brasil dos brancos seria, na média o 44º do mundo em matéria de desenvolvimento humano, ao passo que o Brasil dos negros estaria no 104º lugar!!!

Nada disso é novidade, porém, para quem aceita viver com os olhos minimamente abertos. Temos que reconhecer que vivemos num sistema estruturalmente racista, que se reproduz em cima de mecanismos constantes de exclusão e exploração dos negros e de privilégios naturalizados aos brancos. Em um sistema racista, pessoas brancas se beneficiam do racismo, mesmo que não tenham intenções de serem racistas. Nós brancos não precisamos enxergar o racismo estrutural porque não sofremos diariamente diversos processos de exclusão e tratamento negativamente diferencial por causa de nossa raça. Nossa raça (e seus privilégios) são tornados invisíveis dia-a-dia. Este sistema de privilégios invisíveis a nós brancos é que nos põe em vantagens a todo instante, por toda nossa vida, em todas as situações, e que destroça qualquer tentativa de pensarmos que estamos onde estamos apenas por méritos pessoais. Que mérito puro pode ter qualquer branco de estar no lugar confortável em que se encontra hoje, mesmo que tenha saído da pobreza, dentro de um sistema que lhe privilegiou apenas por ser branco, ao mesmo tempo em que prejudicou outros tantos apenas por serem negros?

Vamos apresentar uma breve listinha de circunstâncias em nossas vidas que expõem nossos privilégios de brancos e que, embora não percebêssemos, embora os víssemos apenas como relações naturais para nós, por sermos pessoas normais e “de bem”, foram decisivas para nos trazer onde estamos (e por não serem vivenciados também por negros e indígenas, seu resultado é fazer com que seja tão desproporcional o número destas populações dentro da UFRGS, por exemplo):
1) Sempre pude estar seguro de que a cor da minha pele não faria as pessoas me tratarem diferentemente na escola, no ônibus, nas lojas, etc;
2) Estou seguro de que a cor da pele dos meus pais nunca os prejudicou em termos das busca ou da manutenção de um emprego;
3) Estou seguro de que a cor da pele dos meus pais nunca fez com que seu salário fosse mais baixo que o de outra pessoa cumprindo sua mesma função;
4) Posso ligar a televisão e ver pessoas de minha raça em grande número e muitas em posições sociais confortáveis e que me dão perspectivas para o futuro;
5) Na escola, aprendi diversas coisas inventadas, descobertas, grandes heróis e grandes obras feitas por pessoas da minha raça;
6) A maior parte do tempo, na escola, estudei sobre a história dos meus antepassados e, por saber de onde eu vim, tenho mais segurança de quem sou e pra onde posso ir;
7) Nunca precisei ouvir que no meu estado não existiam pessoas da minha raça; Nunca tive medo de ser abordado por um policial motivado especialmente pela cor da minha pele;
9) Já fiz coisas erradas e mesmo ilegais por necessidade, e nunca tive medo que minha raça fosse um elemento que reforçasse minha possível condenação;
10) Posso ir numa livraria e perder a conta de quantos escritores de minha raça posso encontrar, retratando minha realidade, assim como em qualquer loja e encontrar diversos produtos que respeitam minha cultura;
11) Nunca sofri com brincadeiras ofensivas por causa de minha raça;
12) Meus pais nunca precisaram me atender para aliviar meu sofrimento por este tipo de “brincadeira”;
13) Sempre tive professores da minha raça;
14) Nunca me senti minoria em termos da minha raça, em nenhuma situação;
15) Todas as pessoas bem sucedidas que eu conheci até hoje eram da mesma raça que eu;
16) Posso falar com a boca cheia e ficar tranqüilo de que ninguém relacionará isso com minha raça;
17) Posso fazer o que eu quiser, errar o quanto quiser, falar o que eu quiser, sem que ninguém ligue isso a minha raça;
18) Nunca, em alguma conversa em grupo, fui forçado a falar em nome de minha raça, carregando nas costas o peso de representar 45% da população brasileira; 19) Sempre pude abrir revistas e jornais, desde minha infância, e estar seguro de ver muitas pessoas parecidas comigo;
20) Sempre estive seguro de que a cor da minha pele não seria um elemento prejudicial a mim em nenhuma entrevista para emprego ou estágio;
21) Se eu declarar que “o que está em jogo é uma questão racial” não serei acusado de estar tentando defender meu interesse pessoal;
22) Se eu precisar de algum tratamento medico tenho convicção de que a cor da minha pele não fará com que meu tratamento sofra dificuldades;
23) Posso fazer minhas atividades seguro de que não experienciarei sentimentos de rejeição a minha raça.

Esta realidade destroça meu mito pessoal de meritocracia. Minha vida não foi o que eu sozinho fiz dela. Muitas portas me foram abertas baseadas na minha raça, assim como fechadas a outras pessoas. A opção de falar ou não em privilégios dos brancos já é um privilegio de brancos. Se o racismo, e os privilégios dos brancos são estruturais, as ações contra o racismo devem ser também estruturais. Racismo não é preconceito: racismo é preconceito mais poder. Se não forçarmos mudanças nas relações e posições de poder em nossa sociedade, estaremos reproduzindo o racismo que recebemos. E agora chegou a hora de a universidade dizer publicamente: vai ou não vai “cortar na própria pele” o racismo que até hoje ajudou a reproduzir, estabelecendo imediatamente Cotas no seu próximo vestibular? Se mantivermos o vestibular “cego às desigualdades raciais” estaremos, na verdade, mantendo nossos olhos fechados para as desigualdades raciais que nós mesmos ajudamos a reproduzir sociedade afora.

Nós, brancos da universidade que assinamos esta carta já nos posicionamos: exigimos cortar em nossa própria pele os privilégios que até hoje nos sustentaram. Cotas na UFRGS já!

Fonte: Sociologia

Dia nacional da Consciência Negra


O dia 20 de novembro se aproxima, portanto, meus próximos posts serão dedicados ao Dia Nacional da Consciência Negra!!!