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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

RENAS DE TRÓIA - SERGIO VAZ



Para delírio dos comerciantes deste país, chegamos finalmente na semana das festas natalinas. Nem no dias das mães consegue-se vender mais do que o natal. É uma época para dar e ganhar presentes. Época que se mede o afeto das pessoas pelo tamanho do presente que se ganha. Ou dá.
Por onde quer que você ande você pode escutar os sinos badalarem, e de quebra, a cantora Simone importunando os nossos ouvidos com o chato daquele refrão: “então é Natal, então é natal, então é natal…”, como se a gente ainda não soubesse. Só de lembrar…
Para falar bem a verdade eu nunca gostei do natal, não sei bem o porque, mas não gosto. Acho que deve ser porque nunca tive natal na minha infância, tampouco na adolescência.
E também nunca gostei do velhinho de barba, o tal de Noel. Ele, pra nós, sempre foi uma pessoa extremamente deselegante, nunca aceitou o convite para visitar a nossa casa.
Dizem as más línguas que ele não gosta de criança pobre e tem medo de circular na favela. Prefiro o Ano novo.
Ninguém pode me culpar por não gostar do papai Noel. Todos que eu conheci tinham barba, cabelo e barriga falsa, e quase nenhum era velhinho. E na sua grande maioria homens desempregados à procura de bico para sobreviverem. Mais ou menos como em lanchonete Fast Food americana: gente que é paga pra sorrir, mesmo sem alegria no coração. Ninguém pode ser feliz ganhando o que eles ganham.
Dizem as más línguas que a figura do bom velhinho foi criado sob encomenda ao artista e publicitário Habdon Sundblom por uma grande empresa de refrigerante mundial. E Assim nascia mais um personagem americano que dominaria o mundo.
Não gosto desse clima natalino porque ele me soa falso. As pessoas me soam falso. E eu também sôo falso.Por conta desse clima de falsa solidariedade vou ter que abraçar até quem eu não gosto, e ser abraçado por quem não gosta de mim. No natal a gente finge que ama e acredita que é amado. Nada mais triste.
Não é amargura, coisa de poeta que não tem chaminé, só não entendo o natal, esse “jeito americano de ser”, que as pessoas acreditam, mas que eu não tenho.
Não gosto do natal porque também é uma época que neva muito no Brasil, não suporto o frio, meu aquecedor está sempre quebrado.
Mas gostando ou não gostando, já é natal.
Mesa farta, mesa falta, em tudo quanto é casa. Em umas Cristo não se manifesta, em outras não foi convidado. Se puderem, tenham boas festas.
Ah, antes que eu também me “esqueça”: – Feliz aniversário, Jesus.



*do livro "Literatura, pão e poesia" Global Editora

Rapper Renan Inquérito não poupa ninguém no livro "#Poucas Palavras"



Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual

"Poesia é insatisfação, um anseio de autossuperação. Um poeta satisfeito não satisfaz". Já escrevera o poeta gaúcho Mario Quintana e que agora é reproduzido no livro "#PoucasPalavras", do rapper paulista Renan Inquérito, que transforma esses versos em lema de vida. Professor de Geografia, ele já foi sorveteiro, empacotador e mecãnico antes de se tornar um dos artistas de hip hop mais aclamados do país, com a banda Inquérito, que já lançou três álbuns. Ele também criou o jornal "Ideia Quente" e participou do livro coletivo "Suburbano Convicto - Pelas Periferias do Brasil".

Em "#PoucasPalavras", Renan Inquérito reúne pensamentos e brincadeiras com as palavras e o espaço branco da folha, como no ótimo "Poeta Musical", levando adiante a criação dos poetas concretos. Os objetivos ficam claros logo no início: "Escrevo como quem faz artesanato, com frases em retalhos, como montar um quebra-cabeças, cada palavra uma peça, até que as partes façam algum sentido". Sérgio Vaz, da Cooperifa, parece acrescentar: "É poesia que dói como a vida, como as ruas que sangram nossos dias na calçada. O livro passa como um filme que não tem pra alugar, num poema que ele crava na página como se cuspisse na cara do opressor, só que você pode rebobinar para que o coração tenha tempo de captar toda sua essência".

A crítica à forte desigualdade social e ao consumismo desvairado ao qual estamos expostos desde que nascemos salta em cada uma das 156 páginas dessa obra, valendo-se dos slogans e logotipos de diferentes marcas bem populares. O autor também não foge à responsabilidade de assumir a palavra. "Vou ser breve: Se a história é nossa deixa que #nóisescreve". Ele também adota o estilo das hastags, do Twitter, afinando-se com a atualidade, marcada pelas redes sociais e as mensagens instantâneas. Também não teme em chamar os "manos" para a luta: "O futuro é uma bala perdida, meu filho / Mas é você quem aperta o gatilho" E muito menos os mais favorecidos: "Empresário, / Não adianta só assinar campanha do agasalho / Queremos autógrafo na carteira de trabalho!".

Com homenagens a Sabotage e Nelson Triunfo, Renan Inquérito declara em "Destino": "Queria cantar como Tim, tocar como Tom, / Jogar que nem o Pelé, escrever igual Drummond / Mas, eu sem o rap ia ser um Bezerra sem a malandragem / Timão sem Fiel, Zumbi sem coragem / Um crente sem bíblia, o Sabotage sem o Canão / Um bar sem bebida, Brasília sem ladrão".

"#PoucasPalavras", portanto, é uma obra que esbanja urgência e precisa ser lida rapidamente, como um rastro de pólvora que se consome e explode nas ruas, e comprova a força da literatura que é feita nas perferias do país, de maneira quase anônima, mas de modo muito mias organizado e verdadeiro do que muitas das obras que ocupam as vitrines das principais livrarias. Nem a imprensa escapa da "roleta russa": "A impressora da imprensa é a jato de sangue / Recarrega os cartuchos a cada bang-bang"; Graças a Deus que nem toda imprensa é assim, né, Renan Inquérito? Ainda há muitos repórteres e jornalistas que escapam dessa carnificina e tentam registrar a sociedade em sites, revistas, jornais e emissoras de rádio e televisão. A conclusão parece vir em "Arma Branca": "Só vai ganhar a GUERRA / Quem se armar de PAZ".

FONTE: www.redebrasilatual.com.br

domingo, 25 de dezembro de 2011

Até deputados do PSDB e DEM apoiam CPI da Privataria



Por: Helena Sthephanowitz, especial para a Rede Brasil Atual

Será que finalmente o país terá a CPI dos tucanos? Com apoio de partidos da base aliada, e até de parlamentares de oposição o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar denúncias relacionadas às privatizações do PSDB foi entregue na quarta-feria (21), com 185 assinaturas, 14 a mais do que o mínimo exigido (de um terço dos 513 deputados) pela Constituição para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara.

O requerimento foi apresentado pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), que encampou o trabalho de coletar firmas de apoio. O fato relevante que sustenta o pedido são os documentos e informações contidas no livro "A Privataria Tucana", do jornalista mineiro Amaury Ribeiro Jr.

Pelo menos quatro do PSDB e cinco do DEM, ambos partidos de oposição, assinaram. Entre os tucanos, figuram os deputados Jorginho Mello (SC), Nelson Marchezan Júnior (RS), Fernando Francischini (PR) e Luiz Carlos (AP). Do DEM, Alexandre Leite (SP), Efraim Filho (PB), Mendonça Prado (SE), Onyx Lorenzoni (RS), Pauderney Avelino (AM). Presenças ilustres também merecem nota, como Tiririca (PR-SP) e Romário (PSB-RJ).

Embora 67 das assinaturas sejam de petistas, nenhum dos deputados do partido subscreveu o requerimento da oposição – embora dois deles tenham participado do ato de entrega das assinaturas ao presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS).

É a primeira vez que um livro provoca esse tipo de reação na Câmara dos Deputados. Com 343 páginas, a obra chegou às bancas no dia 9 deste mês, com um terço de seu volume composto por documentos públicos da antiga CPI do Banestado (de 2004) e de juntas comerciais. Há farto material sobre a movimentação financeira de tucanos e de pessoas ligadas ao partido e ao ex-governador José Serra (PSDB-SP).

O requerimento de Protógenes pede investigação em profundidade das denúncias contidas no livro, que vão de irregularidades no processo de privatização de estatais na década de 1990 até casos de lavagem de dinheiro por figuras como o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e ex-tesoureiro de campanha do PSDB, Ricardo Sérgio de Oliveira.

Entre os citados na publicação estão pessoas ligadas ao ex-governador de São Paulo José Serra, como sua filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e o marido de uma prima, Gregório Marín Preciado.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), solicitou um parecer à Secretaria-Geral e disse que só tomará uma decisão em fevereiro de 2012, após o recesso parlamentar. Ele disse que não vê necessidade de dar prioridade absoluta porque não é nada tão fundamental ou que possa trazer prejuízo ao país. Mas promete colocar a comissão para andar.

Depois do PT, os partidos com mais adesões são PMDB e PSB, com 18 cada, PDT (17), PR (15) e PCdoB (13). Seis deputados do PSD, do prefeito paulistano Gilberto Kassab, aliado de Serra, assinam a CPI.

12 Motivos para casar com um Historiador




1. Nunca vai faltar assunto.

Historiador sempre tem uma história pra contar, é legal quando você tem um “figura” do seu lado que tem a cabeça ampla pra as mais diferentes conversas, assuntos, papos, e uma opinião formada mesmo daquilo, ele nunca terá problemas em ser “social” mesmo que seja tímido, tem papo pra tudo.

O único problema é quando o historiador contrariar sua família toda naquele almoço de domingo dizendo que tudo que todo mundo disse tá absolutamente errado e estragar o almoço err…



2. Ele dificilmente irá julgar sua família, amigos, etc…

Estudamos todo tipo de civilizações e forma de viver dos seres humanos, então é mais fácil a gente se surpreender com eventos naturais óbvios do que com os “complexos” seres humanos, pra estudar todo tipo de forma de vida de um ser humano é necessário tentar compreender aquele estilo de vida.

Também jamais irá julgar você pela aparência, ainda mais se ele for fã da teoria da sociedade da imagem.

Então, por consequência quebramos preconceitos, se você namora um historiador fica tranquilo quanto a aquele primo anti-cristo, aquele amigo esquisito, normalmente nunca será julgado, agora quanto a parte de tirar sarro, er não garanto.



3. Todo tipo de regra imposta o historiador normalmente não dá a mínima.

Então se sua preocupação era quanto a onde vai ser o casamento, se você foi “crismada” ou não, que seja, pro historiador é o de menos, ele se importa com tudo menos com os esteriótipos, isso se ele não tiver uma alergia a catolicismo, então naturalmente o importante é que a união dê certo, então ele fará de tudo para que a união mesmo dê certo e dificilmente irá se importar com o preconceito do povo.



4. Se você acredita em outras vidas, o historiador já está pagando sua dívida.

Porque provavelmente ele é professor, então todos os atos ruins da vida passada provavelmente ele já está resgatando como uma boa pessoa.



5. Você será trocado, mas fique tranquilo.

Será no máximo por um livro do Karl Marx ou do Max Weber.



6. No natal, aniversário, dia dos namorados, etc, você não terá problemas em presenteá-lo.

Você sabe que se você der aquele livro que ele tava querendo DAQUELE AUTOR que ele adora provavelmente ele vai ter orgasmos múltiplos de felicidade.

Ou então dê uma estatuazinha do deus Osíris, ou de Afrodite, qualquer coisa relacionada a mitologia que vai ter um ar de “uma pessoa que ama história mora por aqui” também é legal.



7. Ele tem pose de nerd mas isso não quer dizer que seja um.

E principalmente não quer dizer que ele seja certinho, quanto mais se estuda a humanidade menos afim de ser correto nos padrões da sociedade você fica, ele pode ser um capeta, mas tem aquela cara de pessoa certinha e esforçada, o que te poupa explicações, e ele sabe muito bem o que é ridículo pra sociedade e vai te poupar de certas vergonhas alheias.



8. Até os programas de índio vão ser interessantes pra ele.

Nada mais legal do que sentir na pele o que é ser uma sociedade livre do estado, sem regras, sem leis, sem naaada.



10. Não sabe em quem votar na eleição, pede um palpite pra ele!

Só não espere que ele vá sugerir que você vote em partido de direita, aliás se você votar em partido de direita será um motivo pra união ser questionada.



11. Ele pode parecer revoltado, anarquista, socialista, mas no fundo ele só quer o bem de todos.

Então você jamais estará do lado de uma pessoa individualista, pois como estudante de humanas ele sempre pensará no todo e não somente nele mesmo.



12. Quanto mais você estuda, mais medo de falar bobagem você tem.

Então pode contar com ele na hora de jogar na roda aquele assunto difícil, aquela lavação de roupa suja, normalmente ele vai ser bem cauteloso com as palavras, a não ser que você tenha testado demais o santo dele, ai eu já não garanto afinal, fazer história não é como fazer letras não é minha gente?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Analfabetismo entre jovens em favelas é maior que em áreas urbanas regulares



A taxa de analfabetismo entre as pessoas com 15 anos ou mais que vivem em favelas é 8,4%, o dobro da relativa às áreas urbanas regulares de municípios que concentram essas comunidades.

O dado faz parte do levantamento Aglomerados Subnormais – Primeiros Resultados, baseado em informações do Censo Demográfico 2010, divulgado hoje (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo revela que a situação mais grave é encontrada em Alagoas, onde 26,7% das pessoas que moram em assentamentos irregulares são analfabetas. Em seguida, aparecem a Paraíba (21,3%) e o Rio Grande do Norte (16,3%).
A taxa de analfabetismo no Brasil é 9,6%.

Ainda de acordo com o levantamento, mais da metade dos moradores de aglomerados subnormais (55,5%) são pessoas pardas, seguidas de brancas (30,6%) e de pretas (12,9%).

A maior parte da população (34%) dessas comunidades tem rendimento mensal na faixa que vai de mais de meio salário mínimo até um salário mínimo. Apenas 4,6% ganham mais de dois salários mínimos. Entre a população que vive nas áreas urbanas regulares em municípios com ocorrência de favelas, 26% têm rendimentos que vão de mais de meio salário mínimo até um salário mínimo e 27,1% ganham mais do que dois salários mínimos.

O levantamento aponta também que a população das favelas é, em média, mais jovem do que a de áreas de ocupação regular nas cidades com comunidades carentes. Enquanto nos aglomerados subnormais a idade média dos moradores é 27,9, nessas outras regiões urbanas é 32,7.

Fonte: Agência Brasil

domingo, 18 de dezembro de 2011

A paz que eu não quero ter



A FEIRA DA GUERRA – A PAZ QUE EU NÃO QUERO TER

Armada no pavilhão 3 da mesma maneira como se fosse a “Feira da Providência”, com estandes de diversos países, essa “feira” também reuniu fabricantes de todos os lugares do mundo, dentre eles Israel, Rússia, Brasil, EUA (com cerca de 100 empresas), França, Itália, Índia, Paquistão e por ai foi, mas no lugar dos artigos de artesanato, decoração e comidas típicas, os produtos que estavam a venda nos estandes eram pistolas, fuzis, munição, mísseis, minas, gás de pimenta, equipamentos de visão noturna, aviões, helicópteros e tanques de guerra, e mais todos os outros artigos que se possa imaginar que são necessários para se fazer uma guerra, seja ela uma guerra de trincheira, tecnológica, ou uma mais próxima geograficamente de nós, a “guerra” das favelas e cidades brasileiras.

Todos os produtos estavam expostos e à disposição dos visitantes para serem “experimentados” e claro com vendedores ou expositores atenciosos, dispostos a esclarecerem qualquer dúvida sobre como determinado artigo deveria ser manuseado para que obtivesse seu melhor desempenho. Em muitos dos estandes havia também as bonitas modelos de agências de eventos promocionais (como aquelas que vão à feiras de lançamentos de automóveis) para recepcionarem os interessados e entregarem souvenirs como chaveiros com os nomes das empresas fabricantes e os panfletos informativos, materiais supercompletos e com acabamento impecável.

Quem por acaso notou que na última semana algum dos seus “amigos” de de orkut, my spaces, facebooks e etc postaram algumas fotos posando com pistolas, fuzis, ou próximos a mísseis podem ter certeza que eles passaram por lá, pois qualquer visitante podia pegar uma pistola, dentre as muitas sobrepostas nos balcões de empresas como a Taurus, fingir fazer a mira e apertar o gatilho. Via-se pais e mães orgulhosos de seus filhos por estarem portando armas enormes na na presença de tantas autoridades e flashs, mas sobre tudo na presença da LEGALIDADE. A quantidade de pessoas que faziam poses com cara de tigre era enorme.

Pela total naturalidade dos interessados todos pareciam estar no balcão da padaria, pedindo 3 pãezinhos ao seu Manoel ou então na fila de frios do supermercado quando se pede uma prova de queijo minas para saber se tem pouco ou muito sal, só que atrás do balcão não estava o seu Manoel, e sim as grandes indústrias mundiais fabricantes de instrumentos bélicos, que fomentam as guerras pelo mundo. O que contava não era o teor de sal do queijo, as pessoas (homens em 99,%) se orgulhavam ao experimentar e medir o quanto as armas se adaptavam em suas mãos ou seu corpo, falo de um instrumento feito para matar seres humanos, o que ali desde a organização, o tratamento da imprensa, a naturalidade da circulação dos visitantes pelos corredores parecia ser algo ou desprezado ou já totalmente internalizado como “o que deve ser feito”.

Dentre os visitantes havia grupos grandes da marinha, aronáutica, exército, com jovens aparentando ter menos de 25 anos, que circulavam animados pelos estandes, experimentando os artefatos e conversando com as belas recepcionistas, e vi também alguns poucos membros do BOPE. Esses grupos estavam devidamente identificados pelos uniformes, mas a maioria das pessoas eram “civis”, e havia também homens de terno e gravata, com aparência e postura dos chamados “homens de negócio”.

Para entrar na LAAD, era necessário apenas fazer o credenciamento pelo site ou lá na hora mesmo, na entrada do pavilhão no RioCentro. Para a imprensa, o processo era o mesmo. A imprensa que presenciei por lá estava representada apenas pelo canal do Exército Brasileiro e vi uma equipe de TV que a princípio me pareceu de japoneses. Pedi um cartão, e agora com uma rápida busca no google vi que se trata de uma Agência de Notícias, a Xinhua, instituição jornalística estatal da República Popular da China, o maior centro de distribuição de notícias e informações da China.

No release da feira, e em muitos dos materiais gráficos dos estandes, o “lema” se pautava pela apresentação das mais modernas tecnologias e estratégias existentes para a obtenção ou manutenção da SEGURANÇA e estabelecimento das DEFESAS nacionais.

Eu também estava lá, com meus amigos, durante o tempo em que circulei e presenciei todo esse “clima” do evento, na minha cabeça surgiam diversos momentos das filmagens do Falcão Meninos do Tráfico e da realidade das favelas de todo o país por onde passei ao longo dos anos, onde vi e vejo crianças de 10 anos (ou menos) em diante com armas nas mãos.

Foi impossível não ver a imagem que se formava na minha mente de que muitas dessas novas tecnologias para promover a segurança apresentadas no RioCentro acabarão tendo esse mesmo destino, indo parar nas mãos de crianças e jovens das favelas, causando a nossa “guerra” urbana de todo dia, e, do outro lado, estarão nas guerras oficias, nos arsenais dos israelenses, palestinos e povos africanos que se matam, se dizimam e provocam atentados matando milhares de civis. Mas ali, entre os homens de negócios que circulavam tranquilamente com suas pastas, nada o que estava sendo vendido parecia ter qualquer relação com essas tragédias. Com absoluta certeza, todos botaram suas cabeças no travesseiro e foram dormir tranquilos e muito possivelmente com alguns milhões a mais em suas contas-bancárias e/ou na contabilidade de suas empresas.

Diante disso, faço apenas 2 perguntas:

Essa é a forma que o mundo conseguirá ter segurança, se armando cada vez mais e “melhor”?

O combate à violência e o fim das guerras faz realmente parte da agenda dos governantes mundiais, como é declarado todos os dias nos jornais, ou as guerras urbanas e os conflitos entre países são apenas meros meios para aumentar e manter o todo o poderoso mercado de material bélico e imensa rede que o circunda?

População negra, principal vítima das armas de fogo, precisa de mais atenção do Estado, afirmam especialistas




Por: ONU Brasil
14/12/2011

Direcionar recursos não só da área de segurança, mas principalmente da área social, para segmentos da população historicamente marginalizados é um dos principais fatores que poderão contribuir para a redução do índice de homicídios nestes segmentos e dos homicídios em geral, concordam os especialistas que participaram do terceiro painel do Seminário de Desarmamento, Controle de Armas e Prevenção à Violência, com o tema “Gênero, Raça/Etnia e Violência Armada”.

O evento foi promovido pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) e pelo Sistema das Nações Unidas no Brasil em comemoração do Dia dos Direitos Humanos 2011.

Durante o evento, a capitã da Polícia Militar e analista criminal do Instituto de Segurança Pública (ISP/RJ), Cláudia Moraes, ressaltou a importância simbólica da luta de Maria da Penha Maia Fernandes, farmacêutica cearense conhecida como Maria da Penha, que recebeu em 1983 um tiro de seu marido, um professor universitário, enquanto dormia.

Em consequência, ela perdeu os movimentos das pernas. Seu marido tentou acobertar o crime, afirmando que o disparo havia sido cometido por um ladrão. Após voltar do hospital, no mesmo ano, sofreu mais agressões e iniciou, no ano seguinte, uma longa jornada em busca de justiça. Ela dá nome à mais importante lei brasileira na luta contra a violência de gênero, em vigor desde 22 de setembro de 2006.

Cláudia Moraes é uma das autoras do ‘Dossiê Mulher’, relatório do ISP que traz informações relativas à violência contra a mulher no Estado do Rio de Janeiro. “Muitas das mortes das mulheres são causadas pelo fato de serem mulheres. Por mais que ainda não utilizemos esta categoria, trata-se de femicídio”, afirmou. Ela lembra que existe os dados de violência contra as mulheres são de baixa qualidade, talvez por uma questão cultural que ainda persiste.

Segundo a pesquisadora, oficialmente 206 mulheres foram vítimas de homicídio doloso por armas de fogo (armas de porte, principalmente) em 2010. Cláudia concluiu que a maior parte dos homicídios de mulheres se dão no espaço público, são realizados com armas de fogo e as vítimas são pardas e negras.

Tatiana Moura, Diretora Executiva do Instituto Promundo, lembrou a omissão do Estado em oferecer espaços de participação para as mulheres, identificando uma série de deficiências históricas, como o não cruzamento entre dados das esferas pública e privada. Ela apontou como um importante marco a resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU, de 31 de outubro de 2000, que reafirmou o papel das mulheres na prevenção e resolução de conflitos, negociações de paz, construção da paz, manutenção da paz, resposta humanitária e reconstrução num cenário de pós-conflito.

Em tempos de guerra ou de paz, violência é semelhante

“Se olharmos bem, determinados fenômenos de guerra na violência contra as mulheres se articulam com violências em tempos de paz”, afirmou Tatiana. Ela apontou ainda que 75% das armas pequenas (leves) estão nas mãos de civis, o que ocorre também em contextos de paz, situação que gera grandes riscos para as mulheres. “Essa realidade é frequentemente negligenciada nos contextos de violência de gênero em países como o Brasil ou a África do Sul”. Para além das mortes e ferimentos de mulheres por armas de fogo, explica Tatiana, existem outros impactos diretos, como a perda de um parente ou conhecido próximo.

Nos primeiros dez anos da resolução 1325, afirma, mais de 20 países fizeram planos para colocar em prática a resolução. “O Brasil ainda não”, destacou, lembrando que ainda há muito a ser feito. “A resolução 1325 não é apenas um instrumento de política internacional, e sim de políticas nacionais para a prevenção da violência”.

Racismo institucionalizado gera distorções, mesmo quando há melhorias

Lúcia Xavier, coordenadora da organização não governamental Criola, trouxe dados do sistema de saúde que, segundo argumentou, precisam ser utilizados e comparados com os da segurança. Para Lúcia, os homicídios masculinos apresentam dados muito importantes e a questão racial é igualmente central, conforme ela demonstrou por meio de gráficos com os índices de homicídios no Estado. “Se essas vítimas têm cor, significa que existe aí um outro argumento. São dados ‘coloridos’ pelo racismo institucionalizado”, afirmou.

Utilizando dados do Ministério da Saúde, a especialista aponta que tanto os homens negros quanto as mulheres negras são os mais atingidos por armas de fogo.

Após o início da campanha do desarmamento liderada pelo Ministério da Justiça, apontou Lúcia Xavier, aumentaram os riscos de morte da população parda e negra e diminuiu os da população branca. “Esta política não atinge a população negra, não dá conta das principais vítimas da violência, historicamente. Não traz resultado”, criticou.

“Se há práticas institucionalizadas de racismo”, completou Lúcia, “o que devemos fazer?”. Segundo ela, garantir direitos deve passar por uma política pública que divida as riquezas nacionais. São políticas em áreas como educação, saúde e moradia, entre outras. A especialista lembrou que R$ 635 bilhões vão para a amortização da dívida, por exemplo. “É preciso redistribuir poder para que recursos sejam redistribuídos. As políticas públicas devem ser voltadas para a redistribuição de renda, do contrário as vítimas permanecerão as mesmas.”

Respondendo a uma observação do público sobre o aumento de registros de casos, a coordenadora da ONG Criola lembrou que a violência contra mulheres negras não é um fenômeno recente. “Se elas denunciam mais hoje, é porque se sentem mais seguras. As mulheres negras têm mais experiência nesse tema e, por vezes, não denunciam à polícia por não considerar esta a melhor via.”

Já Cláudia Moraes afirmou que o aumento de registros da violência contra as mulheres no Rio é, em parte, consequência da pacificação promovida pelo Governo do Estado.

Verônica dos Anjos, Coordenadora de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do ONU Mulheres Brasil e Cone Sul e mediadora do terceiro painel, ressaltou que as mortes se dão tanto em países em conflito quanto países considerados em paz. “Mulheres morrem muito mais por armas de fogo do que por qualquer outro objeto, e a maioria são negras. Este é o cenário.”

O Diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), Giancarlo Summa, encerrou o seminário afirmando que o evento fortalece a estratégia da ONU sobre o tema e fundamenta o trabalho em questões como Segurança Cidadã e Raça, Gênero e Etnia, duas áreas de forte atuação do Sistema das Nações Unidas.

Summa lembrou que as organizações podem contar com as Nações Unidas, que estão de portas abertas para realizar parcerias e cooperações com a sociedade, como já acontece com diversas das iniciativas junto com as agências, fundos e programas da ONU que atuam no Brasil.

Fonte: ONU Brasil

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Negro e pardo são principais vítimas de homicídios no DF, diz estudo


Por: Jamila Tavares - G1
16/12/2011

Pesquisa mostra que morreram 437,5% mais negros do que brancos no DF. GDF diz que falta de políticas públicas para esses grupos explicam mortes.

Os negros e pardos são as principais vítimas de homicídios no Distrito Federal, de acordo com dados do Mapa da Violência 2012 divulgado nesta quarta-feira (14) pelo Instituto Sangari. O estudo aponta que no ano passado morreram proporcionalmente 437,5% mais negros do que brancos na capital do país.

Em números absolutos, foram registrados 760 homicídios de negros e pardos no DF em 2010, o que corresponde 86,36% do total (880).

Os números colocam o DF na quinta posição do ranking nacional de homicídios de negros e pardos, atrás de Alagoas, Espírito Santo, Paraíba e Pará – todos com taxas acima de 50 homicídios para cada 100 mil negros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,31% da população do DF se declarou preta ou parda em 2010.

A assessora especial da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do DF, Marlene da Silva Lucas, afirma que as altas taxas de mortalidade da juventude negra no Distrito Federal é resultado da exclusão desta parcela da sociedade das políticas públicas.

“As políticas de ações afirmativas têm um papel relevante na erradicação desses lamentáveis dados”, diz. Marlene afirma ainda que a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial já está trabalhando em parceria com outras pastas para reduzir a morte de jovens negros.

No geral, o estudo mostra que o número de homicídios no DF caiu 14,3% desde 2000. Entre 2009 e 2010, por exemplo, o número de homicídios na capital do país caiu de 1.005 para 880 – o que coloca o DF na 10ª posição no ranking nacional de mortes por 100 mil habitantes. Em 2000, a capital do país ocupava a 7ª posição.

Os registros de mortes violentas nas cidades do Entorno, entretanto, aumentou 39,3% na última década, chegando a 1.451 em 2010. A taxa de mortes por 100 mil habitantes da região, 10,6, ainda é menor do que a verificada, por exemplo, nas regiões metropolitanas de Salvador (418,2), Belém (325,0), São Luís (246,4) e no Vale do Itajaí, em Santa Catarina (228,9).

Fonte: G1 DF