O presente blog tem por objetivo compartilhar idéias, textos, músicas, poesias, filmes, em fim, todos os recursos tecnológicos, disponíveis para esse ciberespaço, que tenham por finalidade a difusão da idéia de que uma transformação positiva é possível em nossa sociedade e que a cibercultura, com toda a sua universalidade, nos possibilita sermos sujeitos ativos dessa transformação. Sejam bem vindos. Francisco Celso
sábado, 29 de janeiro de 2011
Por dentro do Hip-Hop
Por: Vitor Castro - Observatório de Favelas
“O livro é um documento sobre o Hip-Hop”. Esse seria uma síntese do recém-lançado livro “Hip-Hop: dentro do movimento”, descrita pelo próprio autor, o escritor, apresentador, produtor cultural e cineasta Alessandro Buzo. Nascido e criado no Itaim Paulista, na Zona Leste de São Paulo, Buzo publicou seu primeiro livro em 2000. Agora, em janeiro de 2011 lança seu sétimo livro, e tem expectativa de fechar este ano com 14 livros publicados – sendo nove como autor e cinco como organizador. O livro faz parte da coletânea Tramas Urbanas, que já publicou inclusive um outro livro de Buzo, o "Favela Toma Conta".
Como ele mesmo diz, “uma tarefa mais que difícil pra alguém que não tem dinheiro sobrando”. Além de escritor, Buzo apresenta o quadro Buzão Periférico no programa Manos e Minas da TV Cultura, produziu o filme Profissão MC - em parceria com Toni Nogueira - e desde 2004 produz o evento de Hip-Hop Favela Toma Conta.
Abaixo a entrevista com Alessandro Buzo.
Quanto tempo durou a produção do livro e como foram feitas as entrevistas?
Fiz o livro em cinco meses aproximadamente e muitas entrevistas foram por email, não teria como fazer todas pessoalmente. Algumas fiz pessoalmente, como Thaíde, Dexter, Rappin Hood. As entrevistas de pessoas de outros estados, só fiz pessoalmente o Dudu de Morro Agudo e o Léo da XIII, ambos do Rio de Janeiro, quando estiveram se apresentando no meu evento, o "Favela Toma Conta". O restante foi por email.
Embora seja uma produção interessante, é um livro que deve ter dado bastante trabalho. Chegou algum momento em que você achou que não daria pra terminar, que precisaria de mais tempo?
Deu muito trabalho e esse trabalho foi um pouco estressante. Às vezes não localizava as pessoas, outras eu enviava as perguntas mas não recebia as respostas. Enfim... muita coisa ao mesmo tempo, tinha que me preocupar para ver onde cada entrevista ia entrar no livro, costurar de uma pra outra. Não cheguei a achar que não ia dar, mas pensei que poderia dar um "game over" antes de acabar.
Em relação aos entrevistados, você teve que descobrir pessoas nova dentro do Hip-Hop?
Não, eu já conhecia todos os entrevistados do livro. Tenho dez anos ativamente no Hip-Hop, trabalhei na revista Rap Brasil, faço evento. Pelo menos de trocar idéia por email, já conhecia todos.
Qual a sua avaliação do resultado final do livro?
Está muito bom, fácil de ler e muitas coisas importantes foram ditas pelos entrevistados. O livro tem o poder de documentar isso. Achei o resultado final muito satisfatório. Sou suspeito pra falar, mas ficou excelente.
Sua história particular é de muita luta pra alcançar o que vem alcançando na literatura. Além de escrever, abriu uma livraria e uma biblioteca. Você se considera hoje um cara realizado?
Me sinto realizado do ponto de vista de onde sai pra onde já cheguei. Não tenho muito estudo, parei na sétima série e hoje vou em diversos lugares fazer palestra. Quem poderia imaginar que isso fosse acontecer?
Tive uma adolescência complicada desde que meu pai foi embora de casa. Minha mãe deixou de ser dona de casa e passou a ser empregada doméstica, depois funcionária pública municipal em São Paulo. Eu comecei a trabalhar no centro de São Paulo com 13 anos, depois me envolvi com as drogas. Por alguns anos fui usuário de cocaína e depois por seis meses fumei mesclado (maconha com crack). Tinha tudo pra dar errado, ser preso, morrer ou ser apenas mais um nas estatísticas.
Mas a partir da literatura e do Hip-Hop eu mudei minha trajetória, minha vida e hoje me sinto realizado pessoalmente. Tenho uma casamento consolidado que completa 13 anos em setembro, um filho que faz 11 anos em março. E agora eu sou um pai presente e chefe de família responsável. Poder viver hoje só de cultura faz eu me sentir uma pessoa realizada.
Mas ainda faltam algumas coisas que pretendo concretizar esse ano. A primeira e principal é comprar uma casa própria e depois disso um carro. Poderia comprar um carro antes, mas decidi que antes vem a casa e estou trabalhando – e muito – pra isso.
Na literatura acho que estou numa grande fase, mas ainda tenho muito pra conquistar e realizar. Ter uma livraria e uma biblioteca me dá orgulho, amo estar na minha livraria, fazer eventos nela. Resumindo, falta dinheiro, mas no meu coração me sinto um vitorioso.
Ao todo são mais de 60 entrevistas. Você diria que ainda ficou faltando alguém?
Pensei mais seriamente sobre isso lendo o livro depois de pronto. Daria um segundo volume com certeza, só com pessoas que não estão nesse primeiro e repetindo alguns com outras perguntas. Quanto a ter faltado alguém, sempre falta, mas os que estão no livro deram conta do recado.
Quais os projetos para 2011?
Esse ano tenho alguns projetos literários pra concretizar. Pra 2011 vem ai muito em breve – mais em breve do que podem acreditar – meu oitavo livro, "Do Conto à Poesia", por uma pequena editora do Rio de Janeiro, previsão de lançamento para março ou abril.
Depois quero lançar meu primeiro infantil: "Dia das Crianças na Periferia", com ilustrações de Alexandre de Maio, que está 100% pronto, só falta editora.
Isso tudo além de lançar o Volume 5 da coletânea "Pelas Periferias do Brasil" que eu organizo. Se todos vingarem serão 14 livros (9 como autor e 5 como organizador) ao final de 2011. Seriam 14 livros em 11 anos, uma tarefa mais que difícil pra alguém que não tem dinheiro sobrando como eu.
Média de mais de um livro por ano, impensável. Isso iria limpar a área, pra em 2012 eu começar a escrever mais e novas coisas, quem sabe o Volume 2 do "Hip-Hop" e um novo romance. Esse ano não devo escrever, foco é publicar o que está aguardando publicação.
O que é a cultura Hip-Hop pra você, como o Hip-Hop influencia sua vida no dia a dia?
O Hip-Hop é o que eu quero pro meu filho. Se eu quero pra ele, posso indicar pra qualquer um. Vivo Hip-Hop diariamente, quando estou atualizando meu Blog, promovendo eventos, no Twitter, na rua, em casa. Sou fã de Rap e trabalho pra ele crescer e evoluir.
Parte dessa evolução é aceitar que o conhecimento que vem dos livros e dos filmes é o quinto elemento. Já vi pessoas influentes do Rap dizerem que é ter conhecimento sobre os outros quatro elementos. Não concordo, pra mi o quinto elemento é o Conhecimento. São os livros e os filmes produzidos pelos manos e minas do Hip-Hop.
Se alguém não concorda, eu respeito, mas não muda minha forma de pensar. Acho que os rappers que não lêem, deveriam pensar seriamente em mudar isso, pra aprimorar suas letras e abrir a mente pra voos mais altos. Sem conhecimento as pessoas (do Hip-Hop ou não) andam em círculo. Menos TV e mais livros para todos.
Fonte: Observatório de Favelas
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